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Manifesto

Resting Tiger

O Sol da Pátria nasce com uma proposta político-cultural única no país, que dá continuidade ao projeto patriótico levado adiante por grupos de brasileiros trabalhistas e Tradicionalistas ávidos por Justiça Social e por Soberania Popular.

 

O Brasil ainda não realizou plenamente sua vocação de Soberania, Grandeza e Justiça de acordo com nossas especificidades civilizacionais; novas e velhas ameaças pairam sobre nossas comunidades, culturas e liberdades; e, de modo geral, a maioria das correntes político-partidárias e ideológicas não têm oferecido alternativas teóricas, políticas e organizacionais para conduzir o país à consecução de todo seu potencial e orientá-lo nas disputas e perigos surgidos no século atual. O Sol da Pátria se dispõe a dialogar e articular com grupos alinhados, em consonância com seus princípios, focando nos pontos convergentes para somarmos esforços na construção de uma frente soberanista e verdadeiramente patriótica.

 

O Sol da Pátria é um movimento nacional-popular trabalhista e Tradicionalista formado por patriotas convictos da necessidade de um novo modelo de organização política, econômica e social que garanta de fato a independência do Brasil, a defesa dos valores e raízes profundas das diversas regiões e comunidades da Pátria, bem como a integração com os vizinhos em uma América Latina justa e livre, e a vivência radical do legado dos povos do Sul Global.

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Partilhamos, antes de tudo, de um olhar brasileiro sobre as questões brasileiras e latino-americanas. A perspectiva brasileira não nos restringe nem nos limita, pelo contrário. O Brasil é o centro de nosso mundo, e o caminho que trilhamos para a verdadeira universalidade, que só pode ser conquistada por meio das raízes profundas que nos constituem. O Brasil é, para nós, necessidade e objeto  de desejo.

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Não amamos o Brasil porque somos nacionalistas; somos nacionalistas porque amamos o Brasil.

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Somos guiados pelo amor às culturas de nossa gente e pelo inconformismo radical com o sistema de opressão que, em diversos níveis, tanto no interior da sociedade brasileira quanto no sistema internacional, impede a libertação do nosso povo e a construção definitiva da Civilização dos Trópicos que é nosso destino e sonho já vislumbrado pelos Navegadores em sua busca pela Ilha dos Amores, bem como pelo Profetismo Tupi, que anunciava a Terra sem Males.

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O sonho adquiriu diversas expressões nas palavras e atos de nossos heróis civilizadores, tais como o Quinto Império do padre Antônio Vieira, os movimentos Sebastianistas que sacudiram o país em revoltas sertanejas, a Monarquia Socialista de Ariano Suassuna, A República Soberana de Manoel Bonfim, o Estado Novo de Getúlio Vargas, a Nova Roma de Leonel Brizola e Darcy Ribeiro, e outros ainda.

 

O Sol da Pátria reivindica a Utopia contida em todas estas formulações e convoca todos os patriotas a concretizá-la segundo as exigências e os desafios de nosso tempo. O Brasil como Utopia é a Ideia que nos importa: não uma abstração ou um mero projeto intelectual, mas realidade viva e operante, que nos guia segundo os seguintes Princípios:

 

  • TRADIÇÃO

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Somos homens e mulheres enraizados no nosso Povo e com o coração centrado na Tradição. Para nós, a Tradição não é apenas um tipo de Mito soreliano, instrumentalizado para mobilizar as massas e nem um esquema intelectual apenas: ela é uma realidade viva e pulsante, arcabouço simbólico e uma linguagem arcaica e operacional de verdades metafísicas, que não se reduz a nenhuma filosofia política ou ideologia proposta no mundo contemporâneo. Inclui diversas correntes de pensamento que, desde as religiosidades primevas, passando por Platão, até os atuais pensadores Tradicionalistas, trilharam vias espirituais que, por sua vez, se tornaram fontes das mais diversas teologias e concepções de poder e organização social, sempre com o objetivo de manter a chama da espiritualidade viva nos seios das comunidades. Para nós, a Tradição se revela na ciência do povo, como bem dizia o mestre Câmara Cascudo: em cada carnaval e cada procissão, em cada mutirão e em cada drama do povo brasileiro.

 

O Sol da Pátria não é uma organização confessional, estando aberta a praticantes de toda e qualquer fé. No entanto, reconhecemos como fundacionais os valores cristãos e o imaginário católico que modelou os horizontes e práticas religiosas populares, bem como as espiritualidades e religiões afro-brasileiras e ameríndias que tomaram a forma de diversos xamanismos, pajelanças, candomblés, umbandas e espiritismos.

 

Também reconhecemos a contribuição decisiva das vertentes protestantes em diferentes regiões do país e na trajetória de alguns dos nossos principais pensadores. Da mesma forma, valoramos o papel histórico do Islam na formação do Brasil, bem como do judaísmo e outras tradições religiosas. Estamos comprometidos com a proteção e a garantia do papel central na ordem social de todas as religiões tradicionais do Brasil.

 

  • RADICALISMO DA CULTURA POPULAR

 

O radical mergulha nos próprios fundamentos, se encontra nas raízes que o constituem. Neste sentido, somos radicalmente mergulhados na cultura popular e brasileira, emblema de um Povo Novo surgido da mescla de tradições de todos os continentes, e especialmente da herança ibérica, africana e indígena.

 

As identidades das populações brasileiras, a reprodução de nosso país no tempo, e todas nossas possibilidades civilizacionais são indissociáveis da defesa de nossas manifestações religiosas, artísticas, festivas, e do patrimônio histórico e cultural. Somos verdadeiros apaixonados por toda a riquíssima gama de práticas e celebrações de nossas comunidades, e temos um compromisso genuíno de fomentá-la, protegê-la e perpetuá-la.

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A Utopia Brasil é uma rede e uma linguagem formada por símbolos, tipos e imagens míticas que mesclam, de forma indissociável, temas universais em dada conformação particular, unindo em uma via de mão dupla o que está no alto e o que está embaixo. O Imaginário é o âmbito em que se estabelece esta comunhão, e a Cultura Popular e o Folclore constituem seu ponto de reflexão mais seguro e estável. A Tradição Viva inscrita no âmago da Cultura e do Imaginário Popular é a verdadeira matéria-prima para a construção da Civilização dos Trópicos e a via direta para a Democracia Social, que é nosso destino e direito.

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Nosso país passa por um difícil momento em que a indústria cultural pasteuriza nossas identidades a fim de vendê-las por critérios mercadológicos alienígenas e desenraizados, causando não só um deslocamento das novas gerações em relação às raízes que modelaram os diferentes Brasis, como também a tragédia do esquecimento. Soma-se a isso a verdadeira guerra que certos setores da elite travam contra a cultura popular, querendo ora moralizá-la, “civilizá-la” e “domesticá-la” a partir de agendas estranhas à alma do povo brasileiro; ora se apropriar dela para fins de instrumentalização ideológica. Assim como Suassuna, o Sol da Pátria está convicto de que a verdadeira universalidade só pode ser alcançada a partir destas fontes mais particulares das formas nacionais, inscritas na mentalidade e no cotidiano do povo. Sem mergulhar nestas raízes, ficamos à mercê da ditadura da generalidade, da mediocridade e da massificação.

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Não significa, evidentemente, que adotemos qualquer postura saudosista ou reacionária em relação às expressões culturais. Somos conscientes de que o futuro cresce organicamente a partir da mesma seiva que alimentou o passado e frutifica no presente. Eis um dos sentidos profundos da Tradição: não cultuar cinzas, mas manter o fogo aceso. Ora, o cerne de nosso Imaginário está na Coincidentia Oppositorum, a União dos Contrários vislumbrada por Ariano Suassuna, que via no Brasil a realização mais radical do Sul Global, dos povos da Rainha do Meio-Dia, em que o apolíneo e o dionisíaco se expressam juntos na harmonia furiosa de uma embriaguez do pensamento, que é a dança de um povo mestiço de corpo e alma, e de cultura antropofágica.

 

  • CONSERVADORISMO POPULAR

 

Somos uma organização Tradicionalista, que preza pelo respeito e defesa dos valores e sensibilidades morais e religiosas formadas e reproduzidas nas nossas comunidades – incluído o combate a qualquer ultraje a culto e também o reconhecimento do papel da família brasileira e latino-americana, em suas diferentes e inúmeras configurações, como célula social formadora e unidade de produção e reprodução de pessoas, afetos e valores. Não temos nenhum sentimento de inferioridade frente aos dogmas do progressismo liberal oriundos dos principais

 

centros do capitalismo mundial, particularmente das grandes metrópoles ocidentais. O Brasil é uma civilização própria, tem um norte moral singular que não depende em nada e é autônomo frente ao cosmopolitismo moderno, frequentemente hiper-individualista e financiado pelas grandes corporações transnacionais. O povo brasileiro tem direito de viver segundo sua própria noção de Bem, que não é privada mas comum. Repudiamos assim a ética procedimental que privatiza o Bem em nome de uma ordem jurídica de natureza estritamente liberal, organização social esta mais apropriada à expropriação capitalista, que transforma todos os bens em itens de consumo de um mercado cujo único valor supremo é o lucro.

 

Nosso posicionamento é popular e não pode ser reduzido à dualidade “direita e esquerda”, que tem sido usada para acorrentar o sistema político partidário às discussões que ocorrem nas principais metrópoles do Ocidente. Dizer que o povo é de direita ou de esquerda é só uma tentativa de traduzir os anseios populares para a mentalidade das elites cosmopolitas, que têm discurso moldado por influências liberais e pela história do Iluminismo. O povo é pura e simplesmente patriota. Ama o Brasil por inteiro; não somente os minérios e combustíveis fósseis que o nacionalismo materialista deseja proteger; não somente as matas que o ambientalismo defende muitas vezes por razões estritamente econômicas – mas também os valores associados à identidade brasileira. É um patriotismo por inteiro. O Estado deve estabelecer a Justiça e a Ordem em todos os recantos da sociedade. Deve proteger a Nação. Deve defender a população e seus valores segundo os critérios brasileiros de Justiça e Bem.

 

Nem por isso defendemos alguma forma reducionista de moralismo. Somos um povo tropical, modelado por um catolicismo popular temperado por elementos indígenas e africanos, tolerante e flexível na vida cotidiana. Nossa preocupação não é com uma rigidez impossível e indesejável de costumes, mas com o ataque aos princípios e noções de Bem reconhecidos por nosso povo.

 

  • HOLISMO E COMUNITARISMO

 

O individualismo é o verdadeiro cerne do mundo contemporâneo e uma das fontes de seus principais problemas. Torna-se facilmente em signo de alienação e impulsiona a desagregação social. Destrói os laços comunitários vitais a homens e mulheres, despindo-os de suas características fundamentais, reduzindo-os a átomos e números, e preparando o advento do homem-massa e do coletivismo embrutecedor e homogeneizante.

 

Contra a alienação individualista, defendemos a Pessoa, cuja realidade se funda no sentido e funções conferidos pelas comunidades familiares, regionais, étnicas, religiosas e outras em que somos gerados e das quais participamos. O nosso holismo nos conduz a um profundo senso comunitarista, verdadeira base de qualquer organização social e civilização Tradicional, e incompatível com o individualismo que sustenta tanto a filosofia política liberal quanto a massificação coletivista. Queremos resgatar a consciência ética e solidária do bairro, do mutirão, da associação de moradores, da comunidade – em suma, das comunidades que se entrelaçam e se interseccionam, dentro da grande comunidade nacional.

 

  • DEMOCRACIA SOCIAL E ORGÂNICA

 

A constituição das classes trabalhadoras e das classes sociais que compõem o povo brasileiro se dá em um processo histórico específico, singular. Elas desenvolvem identidades vinculadas a culturas e tradições políticas peculiares, e a um imaginário que lhe é próprio. O liberalismo filosófico, ao se pretender uma verdade e modelo universal de organização social e política (somado a um tipo de modelo econômico que estimula a especulação), passa por cima dessa miríade de perspectivas e possibilidades, fundamentando a ordem política na formulação abstrata de um átomo individual tido como sujeito normativo.

 

O resultado são aparatos burocráticos dominados por elites desenraizadas e rentistas e com parco espaço de diálogo com as raízes populares, apoiados por mediadores do sistema atual, financiados por uma Plutocracia explícita. Esse arranjo vive, assim, em permanente crise de legitimidade, imposto de cima para baixo, temeroso do “monstro da lagoa negra” popular que o coloca em risco. A autodenominada democracia liberal é o nome pomposo para a mais brutal ditadura da sociedade de massas.

 

O Sol da Pátria reivindica uma Democracia orgânica e social que assuma as identidades e culturas políticas próprias ao Brasil, convocando todos os patriotas à criatividade institucional para superar os problemas de representação e colocar fim ao distanciamento da população dos âmbitos decisórios do país. Devemos aumentar o espaço de autonomia para que as populações decidam a respeito dos mais diversos aspectos sociais e culturais de suas regiões – isso inclui repensar a atual conformação política e jurídica. E, ao mesmo tempo, elaborar um novo modelo de representação política que supere os vícios do atual e supere a crise de legitimidade de um Estado construído de cima para baixo por elites que tinham por objetivo imitar o modelo Ocidental, em que não podemos caber, já que está apartado da nossa cultura e mentalidade.

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A Democracia Social verdadeira deve representar o povo, em seus valores e aspirações, respeitando especificidades regionais e proporcionando os meios para que as famílias possam ter uma vida digna, com segurança para vivenciarem suas culturas e sua fé, com soberania alimentar e proteção para o exercício da maternidade, paternidade, infância e aposentadoria. Defendemos a reforma agrária, o distributismo e a propriedade privada, que, no dizer de Brizola, é tão boa que a queremos para todos, de acordo com a função social da propriedade.

 

  • MULTIPOLARIDADE  JUSTA  E  SOBERANA

 

A  ordem  jurídica internacional nunca foi capaz de deter os interesses das superpotências durante a bipolaridade da Guerra Fria. Quando substituída pelo momento unipolar, a partir da década de 1990, os EUA fizeram questão de deixar claro que, diante de seus objetivos, toda soberania nacional era relativa. É necessário pensar urgentemente as condições e possibilidades da soberania dos povos em um mundo que transita aceleradamente para a multipolaridade. É mister criatividade institucional para superar os obstáculos à soberania dos povos e à equanimidade nas Relações Internacionais em um mundo policêntrico.

 

O Sol da Pátria se abraça à causa de uma ordem internacional multipolar, formada por blocos civilizacionais e Estados soberanos capazes de projetar poder e de se relacionarem de modo equânime. A nova ordem multipolar que está emergindo abre uma janela de oportunidade para que o Brasil e a América Latina ergam sua voz e busquem superar o papel subordinado que atualmente desempenham no sistema-mundo capitalista, o qual propaga um pseudo-universalismo eurocêntrico cujos modelos são impostos nos quatro cantos do planeta.

 

É sempre bom repetir que não é qualquer multipolaridade que nos importa, mas aquela que garanta e que caminhe passo a passo com a soberania e liberdade dos povos. A multipolaridade não é nossa Utopia, embora faça parte dela. Se não for para afirmar a segurança coletiva de todos os povos e a possibilidade de que eles se reproduzam no tempo, então a multipolaridade passa a ser apenas uma capa de defesa dos interesses dos grandes centros econômicos e políticos do mundo. O Brasil deve saudar o novo mundo multipolar que se vislumbra como uma possibilidade de consecução de nossa grandeza e liberdade, a fim de construir e consolidar nossa independência cultural, econômica e geopolítica.

 

  • PÁTRIA GRANDE E SUL GLOBAL

 

Todas as nações da América Latina têm raízes, processos históricos e posição geopolítica comum. Nossos povos só vão conquistar a verdadeira independência e ser capazes de defender sua soberania e identidades caso se unam em um polo capaz de quebrar a hegemonia do sistema-mundo capitalista e do Norte Geopolítico. A integração da América Latina em um bloco continental e civilizacional comum, desde que resguardados os legítimos interesses particulares dos Estados Nacionais, é objetivo primordial e condição sine qua non para a realização da Utopia prometida.

 

O Brasil precisa articular com a América Latina uma defesa sólida de princípios comuns na política externa e na reconfiguração do Sistema Internacional. Trata-se de reflexão fundamental para o Brasil, que também será afetado pelas questões oriundas desta transição das estruturas internacionais, e tem de encontrar soluções que viabilizem o projeto de construção de uma América Latina integrada, justa, solidária e soberana, capaz de se defender e se autodeterminar. Nosso horizonte é uma América Latina baseada na amizade dos nossos povos e no seu direito de preservação das próprias formas culturais e políticas, sem o fantasma da guerra fratricida ou de anexações e desrespeitos às fronteiras históricas de populações vizinhas.

 

Além disso, o Brasil integra o Sul Global e Geopolítico, e tem a cultura associada aos povos da Rainha do Meio-Dia, que incluem as populações mediterrâneas, e também os influxos orientais que, como bem notou Gilberto Freyre, tanto contribuíram para a formação sociocultural de nossa Pátria. Consciente da posição meridional do Brasil, o Sol da Pátria defende o diálogo entre os países latino-americanos, africanos e asiáticos do Sul Global para a defesa mútua de seus interesses e populações contra a opressão e o intervencionismo secular exercido pelo Norte Geopolítico.

 

  • TRABALHISMO COMO TRADIÇÃO POLÍTICA

 

O Trabalhismo é a única doutrina de massas verdadeiramente nacional, ou seja, nascida das experiências de lutas do nosso povo e de ideias originadas da vivência e do imaginário da população brasileira. O Trabalhismo nasce não como um agregado de ideias imitadas desde fora e aplicadas a torto e a direito no Brasil, mas nasce, sim, no processo de autodescoberta e afirmação do povo brasileiro, em sua luta contra as injustiças sociais.

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Leonel Brizola ressaltou isso com veemência quando, em discurso de 2002, declarou:

 

“Getúlio nunca se declarou da esquerda ou da direita e [...] seu desejo era a construção de um Ambiente Nacional de Desenvolvimento e Igualdade Social. Por isto, apesar de sermos muitas vezes considerados da esquerda clássica, nunca nos identificamos como tal. Em certos momentos, necessários e adequados, emprestamos solidariedade à esquerda brasileira, pois nossos objetivos eram semelhantes, apesar dos nossos meios serem diferentes e, especialmente nisto, o Trabalhismo Brasileiro se distingue da esquerda. Como dizia Alberto Pasqualini: nem Nova Iorque nem Moscou. Na Internacional-Socialista [...] estão os socialistas, os Social-Democratas e os Trabalhistas Britânicos (da linha Labour-britânica, australiana e canadense). Não nos identificamos com estas correntes, nós representamos um outro movimento social: o Trabalhismo Brasileiro, diferente do Trabalhismo Inglês porque somos do terceiro mundo. Nós temos uma identidade própria, não somos o resultado de um transplante dos Socialista-Teóricos, dos Socialistas Fabianos e outras correntes socialistas. As ideias, as teorias e a experiência externa não nos serviram de modelo. O Trabalhismo Brasileiro é autóctone e autenticamente brasileiro, é crioulo. Getúlio aproveitou algumas ideias originárias do Peru e do México. Contudo, na América Latina, também não há nada igual ao nosso trabalhismo. O Trabalhismo Brasileiro formou sua base na realidade nacional, e se ergueu tratando nossos problemas de uma forma própria e com sucesso, sem precisar dos fundamentos da esquerda ou da direita.''

 

Seja qual for a corrente a que se filiou este ou aquele trabalhista, ela nunca conseguiu negar esta verdade basilar: suas origens estão na identidade configurada pelas lutas dos trabalhadores e na figura do líder e fundador do movimento, o Presidente Getúlio Vargas. E um dos emblemas da superioridade do Trabalhismo é seu senso prático. Não é doutrina nascida de especulações de contemplativos enfurnados em gabinetes ou sofás. Azevedo Amaral, um dos maiores divulgadores do Estado Novo, dizia em 1941 que a prática era a força reveladora da realidade, e que o desenvolvimento nacional não era construído de cima para baixo, do pensamento para a ação. “Como tudo que a natureza faz brotar sobre a terra”, dizia, ele teria de nascer “de baixo para cima, da prática para a doutrina, da ação para a ideia. É essa inversão o sentido da grande revolução intelectual de nosso tempo”.

 

O Trabalhismo é tradição política viva cujo substrato é o conjunto de costumes, ideias e valores construídos pelos trabalhadores desde os fins do século XIX. A luta dos trabalhadores partia de problemas, práticas, representações específicas aos brasileiros, e gerou uma identidade própria. Não existe uma “consciência de classe universal” por meio da qual poderíamos ajuizar a maior ou menor alienação dos trabalhadores de determinado país, visto que essa consciência é sempre particular à vivência do povo e ao processo histórico em que ele se constitui. Desse modo, a constituição de uma classe trabalhadora é não apenas processo socioeconômico, mas também político-cultural. É a conquista de determinada identidade, diferenciada não apenas de outros segmentos da própria sociedade, mas mergulhada em uma cultura e uma linguagem particular e única. O ator político se forma por meio de um conjunto de tradições e valores solidários, e age muitas vezes não de forma instrumental, mas a partir de condutas expressivas que reforçam essa solidariedade, mesmo quando suas reivindicações são materiais.

 

Ora, o trabalhismo é criado por tradições populares de batalhas não apenas por melhorias do bem-estar material, mas também na sua constituição como Ator Político, portador de determinada singularidade e identidade, laços de solidariedade formados por valores e imagens próprias, articuladoras de determinada consciência específica, que não é necessariamente nem mais nem menos verdadeira do que as identidades de trabalhadores de outros povos e realidades. Como analisou o Herói da Pátria Leonel Brizola, o Trabalhismo é autóctone porque se fundamenta na realidade nacional e nas lutas de nosso povo. Mas essas lutas e vivências não são regidas por uma lógica materialista, como pretende certa tradição marxista e o utilitarismo liberal. Ela é, antes de tudo, o desdobramento de um coração, de um centro, de um olhar. Ela se calca sobre o imaginário dos trabalhadores. Nosso desafio é, seguindo os passos do Trabalhismo, construir o nacionalismo do século XXI, com foco nas classes trabalhadoras e produtivas.

 

  • COOPERATIVISMO PATRIÓTICO E REVOLUÇÃO RESTAURADORA

 

Comprometidos com a Tradição, divergimos do reducionismo materialista e economicista que marcou diversas propostas ideológicas ao longo dos últimos dois séculos. Além disso, o capitalismo atual se fundamenta em uma lógica individualista que impulsiona a despersonalização do homem. Desse modo, deve ser substituído por novas formas de produção e distribuição da riqueza apropriados às culturas comunitárias do povo brasileiro e às necessidades de construção de um Estado soberano.

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Esta é uma iniciativa revolucionária, mas ao mesmo tempo restauradora. Não porque calcada no desejo de retorno a alguma forma política e econômica pretérita, mas sim porque ressalta a necessidade de religação com a alma popular. Assim como o movimento nascido da Revolução de 1930, o Sol da Pátria proclama a necessidade de retorno à cultura popular, a fim de encontrar a personalidade nacional que é dever do Estado proteger e afirmar. Segundo o filósofo Almir de Andrade, essa brasilidade se encontra no “inconsciente do povo”. Foi a incapacidade liberal de lidar com este inconsciente, que hoje podemos chamar melhor de Imaginário, que levou ao fracasso diante da “questão social”. O intelectual Fernando Callage apontava que esse não era um problema meramente econômico. Para ele, resolver a questão social consistia em humanizar o trabalhador e a sociedade, o que está em conformidade com o pensamento social cristão e a Doutrina Social da Igreja. Trata-se, o que é fundamental, de instituir uma verdadeira democracia, a social.

 

Ora, o soerguimento de uma civilização fundada na Justiça e na brasilidade não pode abdicar de sua realização também no campo econômico- social. Buscamos inspiração em todos os modelos cooperativistas e distributivistas (na tradição de G. K. Chesterton e outros), bem como nos chamados socialistas utópicos e cooperativistas, e também, separando o joio do trigo, no que há de melhor na vigorosa tradição de pensamento nacionalista e mesmo marxista, a fim de criar condições para a superação da exploração do trabalho pelo capital, e para a difusão da propriedade, incluindo os meios de produção, por todo o tecido social. Trata-se de, ao máximo, unir, pelo cooperativismo e outros meios, trabalho e capital, reconhecendo no Trabalhador a força produtiva por excelência – o que não implica de forma alguma abolir a figura do empreendedor (a serviço do bem comum), personagem indispensável para o desenvolvimento nacional.

 

A luta contra a injustiça, entretanto, não se resume a um cálculo de mais-valia. Ela nos remete a uma promessa de fartura e comunhão; remete à ira dos Profetas contra os poderosos, ecoando a Dies Irae e os sermões de Antônio Conselheiro e Padre Antônio Vieira. Reformar e transfigurar as bases espirituais da civilização brasileira é também uma grande obra de refundação –  mítica e mística – da nação brasileira. É o triunfo da Tradição e também da Revolução – não a revolução da ruptura, que busca criar um Homem Novo fazendo tabula rasa da civilização, mas a revolução em seu sentido etimológico, que se nutre da terra pelas raízes mais profundas e dos raios do Sol para fazer crescer a mais majestosa árvore. Em sua Eztetyka do Sonho, Glauber Rocha vaticina:

 

“A revolução é a anti-razão que comunica as tensões e rebeliões do mais irracional de todos os fenômenos que é a pobreza. [...] Há que tocar, pela comunhão, o ponto vital da pobreza que é seu misticismo. Este misticismo é a única linguagem que transcende o esquema racional da opressão. A revolução é uma mágica porque é o imprevisto dentro da razão dominadora. No máximo é vista como uma possibilidade compreensível [...]. E a libertação, mesmo nos encontros da violência provocada pelo sistema, significa sempre negar a violência em nome de uma comunidade fundada pelo sentido do amor ilimitado entre os homens. Este amor nada tem a ver com o humanismo tradicional, símbolo da boa consciência dominadora. [...] A cultura popular não é o que se chama tecnicamente de folclore, mas a linguagem popular de permanente rebelião histórica. O encontro dos revolucionários [...] com as estruturas mais significativas desta cultura popular, será a primeira configuração de um novo significado revolucionário. O sonho é o único direito que não se pode proibir.”

 

Nosso compromisso, em última instância, é com nossos mortos e nossos vivos, com aqueles que já se foram e com os que ainda não nasceram – e com os sonhos de todos eles. Nosso sonho é o Brasil.

 

Pão, Terra e Tradição!

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