"Afinal o dia dela chegou": 2 de fevereiro, na Bahia, o povo brasileiro comemorou Yemanjá (Yemọjá), a "mãe cujos filhos são peixes". Na Pedra da Baleia do rio Paraguaçu, em Cachoeira, ou na Praia do Rio Vermelho e no Dique do Tororó, em Salvador, pescadores, "feitos de santo" ou não, levam presentes à mãe d'água.
O 2 de fevereiro é festa cativa do povo. É que Yemanjá, divindade yorubá cultuada originalmente no rio Ògùn, na atual Nigéria, universalizou-se no Brasil: alcança todos, porque, como observou Edison Carneiro, nela divinizam-se todas as mães do mundo. No imaginário do brasileiro, Yemanjá é incontornável.
Notadamente nas tradições religiosas de matriz yorubá (ou naquelas influenciadas, em maior ou menor grau, por essa cosmopercepção), o culto de Yemanjá é essencial. Geralmente, nas casas de tradição ketu, o calendário litúrgico (ọdún) inicia-se com os 16 dias de Oxalá e encerra-se com o presente das águas (obrigação que, nos terreiros da Casa Branca, do Gantois, do Alaketu e do Opô Afonjá, antecede em alguns meses a festividade popular).
Não há, ainda, como falar do 2 de fevereiro sem recordar três grandes brasileiras: Mãe Bida, Mãe Beata e Gisèle Omindarewá — esta última, sim, brasileira em espírito e verdade, ainda que nascida no Marrocos, de pais franceses. Três filhas diletas da Sereia — porque Yemanjá, numa ou noutra banda do Rio Atlântico, é representada como sereia.
Seja do sinuoso, sensual, às vezes intempestivo rio "que vem da nascente / Que desce do monte criando corrente / Fazendo caminho, abrindo vertente / Cortando vereda, formando afluente", seja do mar que, "quando quebra na praia / é bonito", o brasileiro é, também, filho d'água — é filho de Yemanjá. Yemanjá é a mãe preta do Brasil.
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