Ariano Suassuna: Pão, Terra e Tradição!
- Alípio Macêdo
- 16 de jun. de 2023
- 2 min de leitura
Há 96 anos, nascia na Parahyba do Norte, capital do estado da Paraíba, Ariano Vilar Suassuna. Poeta, dramaturgo, romancista, artista plástico, membro da Academia Brasileira de Letras, ex-secretário de Educação e Cultura do Recife, ex-secretário de Cultura de Pernambuco, sua obra é tão vasta quanto repleta de tantas camadas.

Ou melhor, ele próprio teve vida como obra de arte, pois sua obra como a conhecemos não seria possível sem a tragédia que acometeu sua família, o assassinato de João Suassuna, seu pai, em 9 de outubro de 1930.
Embora enfatizem o brincante e o riso em sua obra, não podemos lê-la despida de sua dimensão trágica, que constitui unidade com aqueles.
Em sua obra, o Rei e o Palhaço são imagens de um país regido pela dialogia Dionísio-Apolo.
Ainda assim, o riso é desconcertante, como bem apontou Ester Suassuna Simões, neta do escritor e professora da UFRJ.
Em um Sertão de "reis" ou de orgulhosos senhores feudais como José Pereira, profetas, cangaceiros, ciganos, cantadores e de "teodoras", Ariano Suassuna compreendeu que, sendo o homem o mesmo em qualquer lugar do palco do Mundo, os dramas vividos pelos sertanejos são iguais aos de qualquer ser humano, são, acima de tudo, atemporais, tanto que a dialogia Rei-Palhaço pode ser vista no filme "Kagemusha", de Akira Kurosawa. À beira da morte, um poderoso senhor feudal (daimiô) ordena que seu falecimento seja mantido em sigilo e ele deve ser substituído por um sósia -- um ladrão de espírito "brincante".
Ariano Suassuna granjeou renome contribuindo para modernizar o teatro brasileiro, embora tenha sido uma modernização calcada na do espanhol Federico García Lorca, influenciada pela cultura cigana da Andaluzia, quer dizer, o teatro do brasileiro é calcado na cultura popular com acento de folheto de cordel. Na prosa de ficção, destaca-se "O Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta", para muitos um romance tão genial quanto um "Grande Sertão: Veredas". Idealizou o Movimento Armorial, lançado com o intento de, nas suas palavras, "realizar uma arte erudita brasileira a partir das raízes populares da nossa cultura". Na década de 1980, lança álbuns de "iluminugravuras", pranchas que integram seus trabalhos de artista plástico e de poeta, contendo poemas manuscritos e ilustrados, unindo a gravura em offset à pintura sobre papel, processo que lembra o das chapas coloridas (illuminated printing) de William Blake.
Blake & Suassuna - visonários.
A Onça do Divino & o Tigre - "tocha tesa".
Depois dessa breve digressão, concluímos que Suassuna é um dos decifradores do Brasil em geral e do Sertão em particular, súmula do drama humano, impondo-lhes um sentido e imagens.
Durante as festas juninas, as fogueiras simbolizam a Terra se revelando "sob o signo do fogo, ação purificadora e iluminadora", assim como "retroação obscura e destruidora", de acordo com ele e com a escritora Aparecida Nogueira, autora de "O Cabreiro Tresmalhado".
Temos aí a Terra e a Tradição viva representada pelo fogo. E o Pão alegoriza a justiça social, o protossocialismo cristão organizado em Canudos por Antônio Conselheiro. Pão, Terra e Tradição alegorizam o Brasil, o imenso Arraial de Canudos.
As três imagens alegorizam e são súmula do destino dos Povos sulistas do Mundo.
Portanto, Ariano Suassuna é
Pão, Terra e Tradição!
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