Bolsonarismo: o atestado de óbito da política brasileira
- André Luiz V.B.T. dos Reis
- há 4 dias
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Só se deixa enganar pelos Bolsonaro quem quer. É uma gente mesquinha, de horizontes curtos, sem convicções políticas profundas, sem formação ideológica adequada.
O bolsonarismo é um pathos que não merece ser chamado nem de nacionalista, nem tampouco de conservador, muito menos de cristão.
No entanto, a família conseguiu capturar parte considerável de todos esses segmentos. Nacionalistas caem de amores por Jair, mesmo com todos os sinais de subordinação aos EUA e Israel. Supostos conservadores se identificaram, ainda que o sujeito só tenha a oferecer "lacrações" inócuas contra a ideologia pós-pós que agora ficou conhecida como "woke". Por fim, por alguma razão obscura, Bolsonaro se transformou em ícone cristão. Um suposto católico-romano que se deixa batizar por pastor pentecostal no Rio Jordão enquanto tem apoio do pior que o evangelicalismo produziu no país: Edir Macedo e Silas Malafaia.
Mas o que há por trás do bolsonarismo, para além do cansaço legítimo da população contra a esquerda progressista? Um direitismo neoliberal forjado no conluio entre esquadrões da morte, tráfico de armas na fronteira e jogatina ilegal. Em suma, Bolsonaro é como o Capitão Guimarães, um subproduto indesejado dos porões do regime civil-militar.
Que alguém com esse perfil tenha mudado seu eixo de atuação do corporativismo parlamentar para um pinochetismo caricato -- simbolizado pela aliança com Paulo Guedes --, não surpreende tanto. É até um caminho natural, já que, desde o início o regime civil-militar, foi montado para ser, em primeiro lugar, anti-getulista [ou trabalhista]; e, em segundo lugar, para submeter o país aos ditames dos EUA em um cenário de guerra fria.
Em torno de Bolsonaro, tentando parasitar seus votos, gravitam todos os tipos mais descaradas do anti-getulismo. Tarcísio de Freitas, por exemplo, é nada mais que um tecnocrata com carisma nulo e sem apelo popular, de mentalidade neoliberal, e pragmático o suficiente para se encaixar nos governos de Dilma e de Bolsonaro. Hoje, é o candidato mais desbragado do "paulistocentrismo", que denuncio há mais de dez anos nas rede sociais, referindo-me às principais forças que gravitam em torno do maior estado do Brasil.

Tarcísio de Freitas representa ainda mais o "paulistocentrismo" do que Bolsonaro ou Lula.
Boslonaro, porque é uma casca vazia de ideias para o país e herdeiro de um pathos anti-getulista, nada tinha o que oferecer senão um pacto passivo com a Faria Lima. Lula, porque é a cara da Nova República, e que continua representando tão bem: cansado, sem energia, carente de legitimidade, um muro já rachado, erguido contra as torrentes que podem libertar as forças represadas da nação.
Nesse cenário, a tentativa de Trump de tutelar diretamente as instituições brasileiras era muito previsível. O ridículo é achar que Lula, que, logo depois de eleito, foi lamber as mãos de Biden, seria solução para o problema. O sapo barbudo expressa apenas o desejo de ser tutelado pelo establishment democrata em nome de "interesses humanitários" para lá de "avançados".
A elite política e intelectual brasileira segue o caminho que vai desembocar, inevitavelmente, no esfacelamento da nação. Se ninguém tiver a coragem de tirá-la do poder, o destino do país já está traçado. E não será nada bonito.