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O rei perenialista e o comunitarismo de que precisamos

Certo tipo de comunitarismo pretende dar uma resposta para as demandas multiculturalistas recriando uma sociedade em que os diferentes grupos possam ser governados por uma multiplicidade de legislações civis.



É um arranjo muito apropriado para uma Europa cuja reprodução demográfica vai se dar por imigração do Leste e dos demais continentes. Muitos imaginam que o Iluminismo poderia fornecer modelos para articular toda essa diversidade em um mesmo sistema político-institucional, mas essa convicção foi abalada nas últimas décadas.


Outros temem que, na ausência do Iluminismo, quem poderia fornecer parâmetros para essa nova sociedade pós-nacionalista seria o Islã. Muitos conservadores tremem de medo diante do suposto perigo de uma "Eurábia", uma Europa Continental integrada com sua área de influência geopolítica imediata no Mediterrâneo [Norte da África] e população crescentemente muçulmana, capaz de conquistar a macrorregião pelo peso da demografia e em meio aos apelos da democracia. Alguma versão da Shari'a seria o destino manifesto da Europa, nesse sentido.


O Rei Carlos III, por sua vez, representa uma alternativa possível na forma de uma elite perenialista. É fácil visualizar um governante que, a partir do modelo de Império Cristão, consiga articular, num ecumenismo pelo alto, com as autoridades civis dessa Europa multicultural, realizando o famoso "ecumenismo pelo alto" propugnado por Schuon e cia. A diferença em relação à proposta de Dugin é que esse Império não se fundamentaria na incrustação e segregação étnica dos territórios governados por uma super-etnia [os grão-russos], e sim em uma espécie de multiculturalismo comunitarista sob as alianças transcontinentais em torno da Casa de Windsor, "suprassumo" da Nobreza de Sangue europeia.


Não pensem que se trata de elucubrações cuja consecução é aparentemente difícil. Esses projetos existem, estão em andamento, e o futuro da Europa nasce também a partir desses embates. Os latino-americanos temos de estar conscientes dessas disputas no centro de decisão do Norte Geopolítico e dos paradigmas que contextualizam esses desenvolvimentos histórico-sociais, bem como dos novos discursos que essas elites traçam para projetar seu poder no Sul Global, seja o da coalizão de povos em torno da ideia de liberdade russa para combater a opressão dos EUA/OTAN -- como quer Dugin --, seja o da governança global para fazer frente ao "desafio do século", a saber, o aquecimento global, como diz o Rei Carlos III.


O Brasil e o Sul Global precisam ter respostas políticas e ideológicas para essas ideias.


Nota da Sol da Pátria: confira também este vídeo (uma live), no qual o tema do perenialismo do Rei Charles foi abordado.

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