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Sim à multipolaridade, não a uma nova "Era dos Impérios"






Alguns olavetes e falsos conservadores gostam de contrapor o globalismo norte-americano a um suposto projeto globalista chinês ou russo. É uma forma de criar uma falsa equivalência entre estas potências a fim de justificar uma posição de conformismo em relação aos Estados Unidos ou falta de compromisso com posições rígidas nas Relações Internacionais, advogando as supostas similaridades que o Brasil teria com a ''civilização ocidental".


Este argumento conservador é falso em pelo menos dois níveis muito importantes. Em primeiro lugar, somente as classes mais altas e cosmopolitas do país sofrem da ilusão permanente de que fazem parte do Ocidente. É o erro do ocidentalismo, com consequências graves na política externa, como visto durante o período em que Ernesto Araújo foi chanceler. Na verdade, temos uma cultura própria, e integramos a civilização latino-americana, que tem o Ocidente apenas como um verniz. Para desmontar esse engano conservador e elitista, que imobiliza o país e o subordina aos interesses do Norte Geopolítico, é necessário valorizar aquilo que nos especifica enquanto nação e enquanto civilização, recobrando o valor das nossas raízes culturais e tradições e reerguendo o país em torno de referências próprias.


Além disto, e aqui adentramos no segundo nível de erro do argumento conservador, a equivalência que tentam construir é falsa. O modelo de capitalismo norte-americano, implantado com a vitória do país na Segunda Guerra Mundial, tinha diferenças claras em relação ao que era então vigente na Europa. Não se tratava mais de ocupação territorial e redução de outras regiões e países ao status colonial, a fim de levar a efeito uma política estritamente imperialista travestida de "imperial".


O capitalismo ianque se afirmou no pós-Guerra desmontando os Impérios Coloniais com ajuda, inclusive, da União Soviética. Um exemplo claro foi o veto dos EUA à interferência inglesa, francesa e israelense quando Gamal Abdel Nasser nacionalizou o Canal de Suez, originando a Crise de 1956, um processo chave da Guerra Fria e também do processo de descolonização africano.


A hegemonia dos EUA desmontava os ''capitalismos nacionais" gradualmente, abrindo os mercados para suas principais transnacionais, com exploração de mão de obra barata, fonte energéticas, e exportação de um mesmo padrão de consumo calcado no "american way of life".


Era um cenário acompanhado de um globalismo ainda mais agudo que o imperialismo europeu, não se limitando apenas à exportação do liberalismo constitucional, mas da indústria cultural dominante, em um sistema-mundo que deixava de ser somente econômico, e que colonizava culturalmente as próprias massas dominadas.


Na era de hegemonia capitalista dos EUA, tolerava-se a industrialização limitada de países dependentes como forma de gestação de um setor semi-periférico ao novo sistema-mundo, mas consumidor dos principais produtos tecnológicos e culturais dos principais centros globais. Com o fim da União Soviética, o projeto norte-americano adentrou sua fase pós-moderna, mas perdeu o controle de todos os fatores da globalização a partir da ascensão chinesa.


Alguns tem dado vivas acríticos ao novo mundo multipolar que se anuncia, achando que estão defendendo a última bolacha do pacote sem prestarem atenção, no entanto, para o mundo que foi suplantado pelo capitalismo ianque, o mundo do Imperialismo propriamente dito e criticado pelos movimentos nacionalistas de direita e de esquerda, que defendiam a soberania e independência do Sul Global.


É necessário dar boas vindas à multipolaridade sem, entretanto, cair no erro de considerá-la uma ''novidade na História" que resolveria, magicamente, todos os problemas do Brasil e da América Latina, da África ou dos povos de maneira geral. O mundo destruído pela hegemonia ianque é o mundo dos imperialismos estritos do Norte Geopolítico, cujo poder militar criou "Ilhas-Econômicas" que satisfaziam os interesses desses pseudo-Impérios. Superar o momento unipolar não é a mesma coisa que superar o Capitalismo, que também convive muito bem com o ultranacionalismo xenófobo e os impulsos militaristas -- um dos acertos da análise marxista de Kautsky.


É necessário se perguntar: quando a Rússia invade a Ucrânia (pretendendo talvez até anexá-la por inteiro) a fim de redesenhar seu território pela força das armas, ela está olhando para a frente, para a construção de um mundo multipolar que significa a libertação dos povos da opressão ocidental, da OTAN, e do capitalismo; ou está olhando PARA TRÁS, com a reafirmação de um espaço imperial apropriado ao seu próprio capitalismo nacional e fundamentado em uma 'identidade russa' que nega outras culturas e a independência dos povos e populações de seu entorno geoestratégico?


Não interessa ao Brasil e à América Latina uma multipolaridade em que [pseudo] "Impérios Regionais" possam intervir a seu bel prazer em áreas que considerem suas para garantir as prerrogativas de seus ''capitalismos nacionais". Não interessa um retorno radical à "Era do Impérios" dissecada por Eric Hobsbawm, confundindo-a, ingenuamente, com o fim da opressão capitalista ou a reafirmação da Tradição.


O Brasil deve saudar o novo mundo multipolar que se vislumbra como uma janela de oportunidade de construção de sua própria grandeza e liberdade. Devemos manobrar no mundo em alianças - que nos sejam favoráveis - com as potências em conflito, mas principalmente nos integrando de modo pacífico com nossos vizinhos, e com regiões do Sul Global, tanto na África quanto na Ásia, a fim de construir uma multipolaridade que garanta nossa soberania, nossa independência cultural, econômica, geopolítica.


Não podemos seguir manuais de posicionamentos políticos emanados por uma das potências em conflito ou de algum pólo do Norte Geopolítico pensando que aquilo que é bom para os EUA, ou para a Rússia, ou para União Europeia ou para a China, é necessariamente bom para o Brasil, para a América Latina ou para o Sul.


Mais ainda: unipolaridade, na verdade, foi uma espécie de anomalia insustentável que já mostra sinais de declínio - assim como foi também anômala a bipolaridade da Guerra Fria - que, no final das contas, não era tão bipolar assim, visto que havia a China na equação e o Movimento não-Alinhado. Contudo, havia essa tendência a uma extrema polarização mundial entre URSS e EUA - e, com a queda da União Soviética, vimos o advento de uma unipolaridade perversa, que é insustentável. O retorno a uma ordem multipolar, todavia, não é necessariamente a imanentização do escathon; a multipolaridade é uma espécie de ordem natural das coisas na História do mundo. Contudo, é verdade que os EUA não irão simplesmente renunciar facilmente ao seu status atual de polícia no mundo, de modo que é necessário trabalhar em prol da multipolaridade e acelerar seu advento. Mais do que isso, porém, é necessário trabalhar por um arranjo multipolar de acordo com os nossos interesses. E isso só será possível com um Brasil soberano e fortalecido e bem posicionado na América Latina. Sem nacionalismo brasileiro, a multipolaridade será o mar no qual seremos engolidos ou colocados a reboque de qualquer potência regional.


Temos amigos e aliados na arena internacional. Mas toda potência ou pólo de poder que pretenda se assenhorar do Brasil é nosso inimigo!


Pela Soberania do Brasil, da América Latina, do Sul Global!


Por uma Multipolaridade Justa e garanta a liberdade dos Povos!


Pelo fim do Globalismo e das novas versões de Imperialismo!


Pela superação da dominação do Norte Geopolítico! Pela superação da opressão capitalista em todas as suas versões! Pela liberdade dos povos da Rainha do Meio-Dia!


O SOL HÁ DE BRILHAR MAIS UMA VEZ!


PÃO, TERRA, TRADIÇÃO!

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