top of page

3 décadas do Tetra

A Seleção era:


Taffarel; Jorginho, Aldair, Márcio Santos e Branco; Mauro Silva, Dunga, Mazinho e Zinho; Bebeto e Romário.

Mas ela se tornou assim só nas quartas-de-final. Na fase de preparação, o Luis Henrique, que jogava no Mônaco, da França, brigava por titularidade no meio-campo. Ele não estava rendendo muito lá fora e foi emprestado pro Fluminense. E aí sofreu um estiramento muscular na fase final do Carioca e ficou de fora da Copa.


Os zagueiros titulares eram os dois Ricardos, o Gomes e o Rocha. O Gomes era o capitão da equipe, inclusive. Também jogava no futebol francês, no Paris Saint Germain. Na época, a França era um campeonato ainda mais secundário na Europa que hoje em dia. O Ricardo Gomes teve um estiramento em amistoso preparatório pra Copa. Já o Ricardo Rocha se contundiu seriamente na estreia no Mundial.


O lateral esquerda era o Leonardo porque o Branco voltava de contusão. A imprensa paulista odiava o Branco, e fazia propaganda pro Leonardo na cara dura. Mas o Leonardo fez aquela bobagem nas oitavas-de-final, ainda no primeiro tempo contra os EUA.


No meio-campo, o titular desde as eliminatórias era o Raí, que chegou a jogar com a camisa 10 na fase de grupos. Mas a seleção ia tão mal com ele em campo que o Raí perdeu o lugar pro Mazinho. O Raí era considerado um novo Sócrates pela imprensa paulista e pela torcida do São Paulo. Mas era um jogador bem mediano [em termos internacionais], que estava lutando muito pra se destacar no campeonato francês.


Então, vejam vocês que a maior parte da seleção jogava ou em times pequenos ou em campeonatos secundários. Não era muito diferente de hoje em dia, nesta questão. O Mauro Silva e o Bebeto se destacavam no Deportivo La Coruña.


A grande estrela mesmo era Romário, ídolo do Barcelona, que era a melhor equipe do planeta -- ainda que tivesse perdido a final da Liga dos Campeões pro Milan -- e também o ''queridinho'' de Johann Cruyff, que era sincero admirador do 'Baixinho', a quem apelidou de "Gênio da Grande Área''.


A preparação do Brasil foi muito problemática. O ciclo da Copa de 1994 foi difícil. Depois da eliminação em 1990, se criou uma ideia de que só deveriam jogar na seleção atletas que atuavam no próprio país. Que quem jogava fora não tinha mais aquele entusiasmo e amor pela camisa. Ou, pelo menos, tinha o futebol ''descaracterizado'', ''europeizado''.


A participação da seleção na Copa da Itália foi um fracasso. Em diversos sentidos, não só no resultado [a pior campanha desde 1966]. É que o Brasil não apresentou, em nenhum momento, o ''jogo bonito'' que era a marca da camisa canarinho e que a tornava uma atração imprescindível em qualquer Copa. O Brasil parecia tão fora de suas tradições que preferiu aposentar a camisa 10 naquele Mundial. Jogamos com 3-5-2, com libero, de forma pragmática, tudo em nome da eficiência e da reconquista da Taça. A ironia é que fomos eliminados em um lampejo de talento do Maradona.


E aí não se queria mais jogadores europeus. Só que a seleção passou a fazer fiasco. A Copa América de 1991, por exemplo, foi fiasco. A Colômbia foi favorita contra a gente, era o time de Valderrama, e apresentava um toque de bola no meio campo do qual não éramos capazes. Então, pra quem acha que o momento atual, em que não conseguimos vencer a Colômbia, é algo completamente inusitado: Não é; o ciclo do Tetra começou assim. Depois, fomos eliminados pela Argentina ainda nas quartas-de-final da competição.


E aí veio o vexame do pré-olímpico. Ficamos de fora de Barcelona porque não conseguimos vencer a Venezuela. Era só meter um a zero na Venezuela, que era um futebol completamente amador na época. Até 1989, o Brasil nunca tinha tomado sequer um gol da Venezuela. A média de gols nos confrontos contra eles era de quatro ou cinco pra seleção canarinho. Mas empatamos de um a um com os venezuelanos e ficamos de fora.


A Copa América de 1993 foi outro fiasco. Na fase de grupos, só vencemos o Paraguai [mais ou menos como este ano] e ainda perdemos do Chile [ou seja, foi pio que este ano]. E aí fomos eliminados nos penais contra a Argentina, nas quartas-de-final também.


As Eliminatorias ainda não eram em pontos corridos. Foi a última vez em que foram divididas em grupos. E passamos o maior sufoco pra classificar. Perdemos uma partida pela primeira vez na história, contra a Bolívia. No turno, só derrotamos a Venezuela e, mesmo assim, jogando mal. Lembro que existia uma ciumeira, em certos círculos, com a seleção de vôlei, que ganhou o ouro olímpico em

Barcelona e a Liga Mundial de 1993, contra a Itália. Alguns diziam que agora éramos o país do vôlei, não mais do futebol.


Romário veio como ''salvador da Pátria'' no jogo contra o Uruguai porque não podíamos perder de jeito nenhum; uma das vagas já era da Bolívia. Quando nos classificamos, o Cruyff, que viu a partida, disse que a seleção era ''surpreendentemente pouco talentosa, à exceção de Romário'', que tinha ''mais transpiração que inspiração''.


Então, vejam vocês: parecia que não éramos mais essa coca-cola toda. Aliás, a grande sensação do futebol sul-americano era a Colômbia de Valderrama, Rincón, Asprilla - que meteu 5 a 0 na Argentina em plena Buenos Aires, obrigando os hermanos a jogarem a repescagem das Eliminatórias contra a Austrália [e aí eles convocaram Maradona pra ser o salvador da Pátria deles]. A Colômbia é que era o ''jogo bonito'' da América do Sul.


O Brasil era tricampeão do Mundo, mas não sozinho: a Itália também era e a Alemanha idem. A Alemanha tinha chegado na final das últimas três Copas. A Itália tinha um time forte, com Maldini, Baresi, Baggio, e o esquema do Milan do Arrigo Sacchi. Outro time considerado muito forte era a Holanda, que decepcionou em 1990, mas continua com uma geração pra lá de forte.


Foi a última Copa com apenas 24 seleções. Em 1998, na França, o número passou pra 32. E a fase de grupos foi segura, até fácil, mas nada animadora. Ninguém, absolutamente ninguém, ficou satisfeito com o futebol apresentado pela Seleção. A imprensa, que detonou a equipe de 1990, e qualificou aquele período de Era Dunga, caía de pau em cima de Parreira e da equipe.


A vitória magra de 1 a 0 sobre os EUA foi encarada quase que como uma vergonha. Ninguém levou em conta que estávamos com um jogador a menos desde meados do primeiro tempo, que o calor era de 50ºC, que era feriado nacional ianque -- que eram a sede da Copa. O fato é que não jogamos bulhufas. Galvão Bueno era só crítica à comissão técnica.


Os primeiros elogios à seleção só surgiram com a vitória sobre a Holanda. Não custa lembrar que vencemos com um gol de falta, e que quando derrotamos a Suécia, na semifinal, eles tinham um jogador a menos em campo. Também não custa lembrar que a final foi pros pênaltis.


Mas depois que vencemos, o clima mudou inteiramente. Era como se nunca tivesse deixado de ser 1970. É como se o Brasil nunca tivesse, de fato, saído do topo do mundo da bola. O ciclo seguinte foi de otimismo esfuziante de um país que se considerava no auge de sua história futebolística, repleto de gênios, e pronto pra ganhar a próxima Copa com os pés nas costas.


Por isso fico sempre cético em relação a catastrofismos sobre a ''crise do futebol brasileiro'', sobre o ''declínio técnico dos nossos jogadores''. Não vejo nada disso. Vejo só uma seleção que não venceu Copa do Mundo porque está meio que defasada taticamente - jogado tem de sobra. No dia em que vencer a Copa, e espero que seja a próxima, o clima vai ser como se 1970 nunca tivesse acabado. De novo. Quem viver, verá.


ps.: na geração que estamos preparando pra 2026, vejo goleiros melhores que em 1994; o meio-campo é no mínimo semelhante; o ataque tem potencial pra ser superior. Só vejo inferioridade real nas laterais.

0 comentário

Comentários


bottom of page