"Ainda há esperança": uma renovação ideológica do bolsonarismo?
- André Luiz V.B.T. dos Reis

- 2 de jun.
- 2 min de leitura
O vídeo que Eduardo Bolsonaro lançou ontem em suas redes sociais traz alguns elementos interessantes de reflexão. Com o nome de "Ainda há esperança" e declarando "venceremos!" como mensagem derradeira, o número 2 lançou seu nome para a corrida presidencial.
Ou seja, Tarcísio continua como plano B para Bolsonaro. O ex-Presidente vai tentar manter o capital político no círculo familiar até o fim. Dificilmente vai conseguir, mas está agindo de modo ativo para isso, e suas tentativas terão consequências no âmbito eleitoral. Jair se envolve em uma queda de braço com as forças da direita paulistocêntrica. Tarcísio só vai resistir se seu desejo de chegar ao poder for maior do que o da família Bolsonaro.
Por outro lado, a articulação em torno de Michele tem chances mínimas de prosperar diante da fome dos filhos do ex-Presidente. Eduardo pretende impor seu nome a partir dos apoios externos que diz representar. E ele tem sido convincente: a pressão de Marco Rubio sobre Moraes é uma conquista pessoal, uma sinalização de grande efeito que ele envia para as hostes bolsonaristas.
Eduardo não precisa citar Trump em seu vídeo. Antes, aponta para o nacionalismo populista europeu, dizendo se inspirar em Viktor Orban, o "mais longevo líder conservador do mundo atual", provavelmente o maior representante da Democracia Iliberal de tons cristãos.
O discurso do número 2 traz mudanças substanciais em relação ao do pai. Sai a belicosidade e o divisionismo histérico de matiz olavéticos, centrados no anticomunismo, no gesto da "arminha", no saudosismo dos coturnos, na guerra contra os ''vagabundos". Ou seja, toda a narrativa tosca contra o subversivo e a favor do ''homem de bem'' de classe média. Não há menções ao lacerdismo anti-corrupção que forjou o crescimento do Poder Judiciário nos anos recentes.

Eduardo fala de superação de ressentimentos, de integração nacional, recuperação da grandeza que é vocação da nossa História, comemoração dos construtores do país, resgate da identidade nacional. Cita positividades em todos os períodos políticos, exceto a Nova República, se permitindo elogiar até mesmo João Goulart, algo que seria quase impensável para o pai.
Como exemplos de estadistas, cita Vargas e Juscelino, enfatizando os investimentos em infraestrutura, o desenvolvimento econômico e a proteção aos trabalhadores. Sintetiza tudo em Dom Pedro I, que consolidou um país continental, que poderia muito bem ter se fragmentado no processo de Independência, recuperando, assim, a imagem de estadista de um Imperador reduzido a um "mulherengo" pela narrativa de certa esquerda.
É um discurso muito mais consistente do ponto de vista conservador, transmitido com ar de jovialidade e cosmopolitismo, de forma grave mas com ares de otimismo. Um show de eficiência, que ecoa também as produções do Brasil Paralelo, ''laboratório'' de uma linguagem direitista pró-conservadora, filo-monarquista e filo-lusitana desenvolvida na última década.
Claro que é uma propaganda. No fundo, Eduardo Bolsonaro é o entreguista que o pai enviou para se oferecer para Trump e para o Departamento de Estado dos EUA, e que provavelmente vai se abraçar com força à Faria Lima na primeira oportunidade. São as relações reais do mundo da política que importam, e os Bolsonaro não dão quaisquer sinais importantes de abandonar a esgotolândia que representam.
Mas o ensaio de mudança do tom do discurso não pode passar desapercebido. Aguardemos as respostas dos demais atores.




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