No dia 31 de agosto, nascia em Alagoa Grande, no Brejo paraibano, José Gomes Filho, mais conhecido pela alcunha de Jackson do Pandeiro. Com o ouvido requintado pelos ritmos entoados em terreiros, cabarés, feiras e praças numa região apinhada de canaviais e numa Alagoa Grande atravessada por trilhos de trem (antes mesmo da moderna Campina Grande), sua arte é, assim, travessia, cruzamento, encruzilhada, ponto de intersecção entre os universos rural e cosmopolita.
Seu próprio nome artístico, alusivo a um ator de filmes de faroeste chamado Jack Perrin, revela sua maestria em ressignificar -- do galego Perrin, ele se inspirou no seu jeito peralta, muganguento, como se diz no Nordeste.
O cadinho cultural e de mundos aparentemente antagônicos engendrou o Rei do Ritmo, fundamental para a Tropicália, um dos vetores que impulsionou a modernização da nossa música popular. João Gilberto também foi influenciado pelo Rei do Ritmo, se considerarmos a divisão do canto. O mineiro João Bosco sempre ressalta a divisão melódica e rítmica que Jackson praticamente criou, calcada no frevo -- segundo o pesquisador pernambucano José Teles, ele cantava tudo como se fosse frevo, inventando uma maneira de decompor a divisão rítmica.
Assim, fazendo peraltices com frases melódicas, ele desembestava, como um rojão ou um corisco num céu calmo, quebrando tempo e marcação bem rígidos; ora atrasava, ora adiantava para, finalmente, convergir com os acordes da canção. A desconstrução da velocidade no meio da música espelhava um povo que se arrojava sem medo pelos desfiladeiros do devenir. Jackson do Pandeiro, que hoje faria 104 anos, representava um Brasil de voo altaneiro, airoso, que dançava. Que sua obra encoraje aqueles que ainda têm em si a centelha desse ideal a seguir lutando por um Brasil soberano.
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