top of page

A imortalidade de Hermeto Pascoal


Há muitos músicos virtuosos no mundo, mas poucos podem ser considerados gênios, de fato invocadores da deusa da música. A música, como as outras artes, não se esgota na repetição, mas se realiza de fato na autenticidade da individualidade de cada um que a experimenta. Hermeto Pascoal foi uma das maiores contribuições do Brasil para a música, pois ele não apenas a fez com excelência, mas ousou ir além do que era conhecido, explorando as profundezas da criatividade humana.


Nascido no município de Lagoa da Canoa, Alagoas, em 22 de junho de 1936, o “Bruxo”, como era chamado, descobriu a música na convivência com a natureza, fascinando-se com os sons, e com o acordeão — e o que seriam os instrumentos musicais senão formas de reproduzir os sons da natureza? Esta experiência foi crucial para que ele desenvolvesse o seu gênio. A sua capacidade de criar melodias marcantes, cheias de notas, e encontrar ritmos para além dos ritmos já inventados e estabelecidos é algo que não nasce em qualquer escola de música.


De Alagoas, Hermeto Pascoal, ainda adolescente, partiu para Recife, onde fez os primeiros trabalhos com Sivuca. Já adulto, em 1958, desceu para o Sudeste, estabelecendo-se, primeiro, no Rio de Janeiro e, depois, em São Paulo. Dali, foi para os Estados Unidos, iniciando uma carreira internacional de grande sucesso. Tamanho era o reconhecimento do talento do Bruxo que ele foi convidado a compor e gravar com Miles Davis. Dessa parceria, saíram belas músicas como Little Church e Nem um Talvez, presentes no álbum Live-Evil, de 1971.



ree


Hermeto costumava dizer que a teoria musical aprisiona a música, que a música deve ser livre. Isto, podemos atestar ao analisar as harmonias das suas músicas, como “De Sábado para Dominguinhos”. Quem tenta compreender as composições de Hermeto a partir do que é ensinado nos livros de teoria ou mesmo nos diversos cursos de harmonia avançada não consegue entender como Pascoal chegou àquelas composições, cheias de acordes complexos e, para o músico médio, sem sentido lógico em suas progressões. Ainda mais marcante do que seus acordes, o uso do próprio corpo, da barba, da água, e de objetos não musicais, como bule e panela, para fazer música é algo que intriga e que fascina. Só uma mente acima do normal para procurar fazer música a partir do que há de mais comum no nosso dia, a partir das coisas que estão mais perto de nós. O Bruxo, com toda a sua magia, conseguia encontrar a música em todos os cantos, em todos os lugares.


Apesar de ter um estilo por vezes hermético, por vezes experimental demais, o que poderia ter feito com que sua produção fosse pouco apreciada pelo público em geral, Pascoal criou obras primas que chegaram aos ouvidos de milhões de brasileiros e que permanecem na memória da nossa música. Peças como “Bebê”, “Voz e Vento” e “Chorinho pra ele” imprimiram verdadeira emoção na história da música brasileira.


No dia 14 de setembro de 2025, o mundo recebeu a notícia do falecimento de Hermeto Pascoal. Certa feita, o alquimista Hermeto disse que "Nada resiste à música". Pois bem, a morte será humilhada por sua música.

Comentários


© 2025 por Sol da Pátria.

bottom of page