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Anticomunismo e perspectiva católica (Padre Júlio Meinvielle - "O comunismo na revolução anticristã")

A única modalidade de "anticomunismo" que, a meu ver, realmente importa (e que é, ao fim e ao cabo, respeitável) é aquela que se formula a partir de uma perspectiva católica tradicionalista. É, com efeito, a única abordagem que faz as conexões certas e necessárias (marxismo - liberalismo - Iluminismo - Reforma Protestante - Renascimento), fundamentando a crítica do ideário comunista a partir do único paradigma realmente coerente, consequente e portanto válido para qualquer católico sério: a Doutrina Social da Igreja. É o anticomunismo que se extrai do pensamento de um Donoso Cortés, de um Maurras, de um Chesterton e de um belo livro como este (El comunismo en la revolución anticristiana), de 1961, de autoria do padre argentino Julio Meinvielle, um notável caudatário desta nobre tradição.



Manejando com maestria e fina verve retórica o aparato conceitual da Escolástica, Meinvielle vai ao âmago da questão e liga todos os pontos com precisão cirúrgica. Trata-se sobretudo de interpretar o marxismo à luz d'uma "antropologia filosófico-teológica", bem como d'uma "teologia católica da história e da cultura", como esclarece o filósofo tomista Carlos Alberto Sacheri, conterrâneo do autor, em texto de apresentação à obra.


Meinvielle parte do princípio da existência de quatro dimensões essenciais na natureza humana (ser-sensível-racional-divino), que devem funcionar em harmonia com as funções básicas de toda sociedade (economia de execução - economia de direção - política sapiencial). Tal seria o ordenamento tradicional, que deriva da própria natureza do Homem. Não obstante, a partir do nominalismo no século XIV, tem início um processo de crescente desagregação, que progride através de três marcos fundamentais: o Renascimento e a Reforma - a Revolução Francesa - a Revolução Russa, que, em conluio com o demoliberalismo*, instaura o primado absoluto da Matéria sobre o Espírito no horizonte da consciência universal.


É uma lástima que uma obra como esta não tenha maior divulgação /difusão por estas plagas, pois poderia ser um excelente antídoto contra o anticomunismo de fancaria que se tem difundido no Brasil nas últimas décadas, uma nefasta peçonha ideológica inoculada no debate público por legiões de pseudoconservadores e liberais; no Brasil e na própria terra natal do autor, diga-se de passagem, que acaba de alçar à presidência da república um execrável charlatão useiro e vezeiro nestes ilusionismos.



*O prefixo demo é aqui usado pelo autor do artigo para se referir a um critério puramente demográfico, de massas ou de quantidade.

As opiniões expostas neste artigo não necessariamente refletem a opinião do Sol da Pátria

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