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António Sardinha: Apóstolo da Unidade Hispânica e Pensador da Tradição

Foto do escritor: Víctor Gama Víctor Gama

Poucos intelectuais lograram exercer uma influência tão marcante em sua época quanto António Sardinha, cuja morte precoce, há pouco mais de cem anos, no dia 10 de janeiro, deixou um legado que permanece vivo nas ideias políticas, na literatura e no debate doutrinário. Apóstolo da unidade hispânica, Sardinha é uma figura que ainda hoje inspira debates intensos, sobretudo pelo vigor polemista de sua obra e pela originalidade de seu pensamento.

O que mais impressiona em António Sardinha, além de sua capacidade de moldar as ideias de seu tempo, é a vastidão de sua produção intelectual e literária, realizada em apenas 37 anos de vida. Sua obra, embora interrompida, traz reflexões robustas e originais, como a formulação de uma simbólica unidade entre Portugal, Espanha e suas antigas colônias, ideia que transcende o seu tempo e convida a revisitações.



Antônio Sardinha
Antônio Sardinha

Líder incontestável do movimento conhecido como Integralismo Lusitano, Sardinha trilhou uma trajetória singular, que o levou da defesa inicial da república à desilusão com suas promessas. Visionário, numa espécie de movimento profético, ele percebia na classe política republicana portuguesa uma incapacidade estrutural de promover mudanças fundamentais. A partir dessa constatação, abraçou a monarquia como expressão natural da alma portuguesa, não como mero regime político, mas como uma estrutura orgânica, radicada nos valores históricos e culturais da nação.

Para Sardinha, a monarquia tradicional seria a antítese do centralismo burocrático e uma forma de governo que respeita a diversidade e a vitalidade dos corpos intermediários. Essa monarquia, católica, antiliberal e anticonstitucional, deveria ser, segundo ele, o regime natural e histórico de Portugal, em oposição ao ideal republicano.

Além de suas contribuições doutrinárias, que consolidaram os fundamentos do Integralismo Lusitano e refletiram a dinâmica política portuguesa da primeira metade do século XX, Sardinha deixou uma rica produção poética e ensaística. Inscrito no neorromantismo português, seu primeiro livro, Tronco Reverdecido (1910), já revelava a profundidade de sua sensibilidade artística.

Católico fervoroso e irmão leigo da Ordem Terceira de São Francisco, Sardinha via na fé cristã o elemento unificador do espírito português. Para ele, o catolicismo era o guardião dos valores nacionais e garantia de harmonia entre povo e Estado. Sua concepção de monarquia orgânica reconhecia na religião o pilar espiritual de Portugal.

Uma de suas ideias mais emblemáticas foi a aliança peninsular, aprofundada durante o exílio na Espanha entre 1919 e 1921. Sardinha entendia Portugal e Espanha como nações irmãs, unidas por uma história comum e pela fé católica. Em Aliança Peninsular (1925), diz:

"Nada mais angustioso nem mais humilhante para o nosso patriotismo, quando são e quando clarividente, do que o irracional ódio à Espanha, denunciando consigo, na sua suposta exaltação nacionalista, uma negativa formal e irredutível da pátria portuguesa."

Seu hispanismo vislumbrava a Ibéria e suas antigas colônias como uma unidade espiritual, destinada a uma missão comum, um pensamento que ecoa na descrição de Francisco Elías de Tejada, que o define como “figura capital no pensamento político das Espanhas”.

Apesar de reconhecer em Durante a Fogueira (1927) que não nascera para ser homem de Estado, António Sardinha foi mais do que um político em potencial. Ele desempenhou um papel crucial na transformação intelectual de sua época, articulando uma elaborada e abrangente visão de hispanidade, desafiando as limitações do regime republicano e deixando um legado de inspiração.



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