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As Milícias cariocas e a família Bolsonaro

Em debate na Assembleia Legislativa do Rio, em 2007, Flávio Bolsonaro soltava as seguintes pérolas:


“𝑵ã𝒐 𝒔𝒆 𝒑𝒐𝒅𝒆, 𝒔𝒊𝒎𝒑𝒍𝒆𝒔𝒎𝒆𝒏𝒕𝒆, 𝒆𝒔𝒕𝒊𝒈𝒎𝒂𝒕𝒊𝒛𝒂𝒓 𝒂𝒔 𝒎𝒊𝒍í𝒄𝒊𝒂𝒔, 𝒆𝒎 𝒆𝒔𝒑𝒆𝒄𝒊𝒂𝒍 𝒐𝒔 𝒑𝒐𝒍𝒊𝒄𝒊𝒂𝒊𝒔 𝒆𝒏𝒗𝒐𝒍𝒗𝒊𝒅𝒐𝒔 𝒏𝒆𝒔𝒔𝒆 𝒏𝒐𝒗𝒐 𝒕𝒊𝒑𝒐 𝒅𝒆 𝒑𝒐𝒍𝒊𝒄𝒊𝒂𝒎𝒆𝒏𝒕𝒐 [...]. 𝑨 𝒎𝒊𝒍í𝒄𝒊𝒂 𝒏𝒂𝒅𝒂 𝒎𝒂𝒊𝒔 é 𝒅𝒐 𝒒𝒖𝒆 𝒖𝒎 𝒄𝒐𝒏𝒋𝒖𝒏𝒕𝒐 𝒅𝒆 𝒑𝒐𝒍𝒊𝒄𝒊𝒂𝒊𝒔, 𝒎𝒊𝒍𝒊𝒕𝒂𝒓𝒆𝒔 𝒐𝒖 𝒏ã𝒐, 𝒓𝒆𝒈𝒊𝒅𝒐𝒔 𝒑𝒐𝒓 𝒖𝒎𝒂 𝒄𝒆𝒓𝒕𝒂 𝒉𝒊𝒆𝒓𝒂𝒓𝒒𝒖𝒊𝒂 𝒆 𝒅𝒊𝒔𝒄𝒊𝒑𝒍𝒊𝒏𝒂, 𝒃𝒖𝒔𝒄𝒂𝒏𝒅𝒐, 𝒔𝒆𝒎 𝒅ú𝒗𝒊𝒅𝒂, 𝒆𝒙𝒑𝒖𝒓𝒈𝒂𝒓 𝒅𝒐 𝒔𝒆𝒊𝒐 𝒅𝒂 𝒄𝒐𝒎𝒖𝒏𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆 𝒐 𝒒𝒖𝒆 𝒉á 𝒅𝒆 𝒑𝒊𝒐𝒓: 𝒐𝒔 𝒄𝒓𝒊𝒎𝒊𝒏𝒐𝒔𝒐𝒔. 𝑬𝒎 𝒕𝒐𝒅𝒂𝒔 𝒆𝒔𝒔𝒂𝒔 𝒎𝒊𝒍í𝒄𝒊𝒂𝒔 𝒔𝒆𝒎𝒑𝒓𝒆 𝒉á 𝒖𝒎, 𝒅𝒐𝒊𝒔, 𝒕𝒓ê𝒔 𝒑𝒐𝒍𝒊𝒄𝒊𝒂𝒊𝒔 𝒒𝒖𝒆 𝒔ã𝒐 𝒅𝒂 𝒄𝒐𝒎𝒖𝒏𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆 𝒆 𝒄𝒐𝒏𝒕𝒂𝒎 𝒄𝒐𝒎 𝒂 𝒂𝒋𝒖𝒅𝒂 𝒅𝒆 𝒐𝒖𝒕𝒓𝒐𝒔 𝒄𝒐𝒍𝒆𝒈𝒂𝒔 𝒅𝒆 𝒇𝒂𝒓𝒅𝒂 𝒑𝒂𝒓𝒂 𝒔𝒐𝒎𝒂𝒓 𝒇𝒐𝒓ç𝒂𝒔 𝒆 𝒕𝒆𝒏𝒕𝒂𝒓 𝒈𝒂𝒓𝒂𝒏𝒕𝒊𝒓 𝒐 𝒎í𝒏𝒊𝒎𝒐 𝒅𝒆 𝒔𝒆𝒈𝒖𝒓𝒂𝒏ç𝒂 𝒏𝒐𝒔 𝒍𝒐𝒄𝒂𝒊𝒔 𝒐𝒏𝒅𝒆 𝒎𝒐𝒓𝒂𝒎. 𝑯á 𝒖𝒎𝒂 𝒔é𝒓𝒊𝒆 𝒅𝒆 𝒃𝒆𝒏𝒆𝒇í𝒄𝒊𝒐𝒔 𝒏𝒊𝒔𝒔𝒐. 𝑬𝒖, 𝒑𝒐𝒓 𝒆𝒙𝒆𝒎𝒑𝒍𝒐 [...], 𝒈𝒐𝒔𝒕𝒂𝒓𝒊𝒂 𝒅𝒆 𝒑𝒂𝒈𝒂𝒓 𝒗𝒊𝒏𝒕𝒆 𝒓𝒆𝒂𝒊𝒔, 𝒕𝒓𝒊𝒏𝒕𝒂 𝒓𝒆𝒂𝒊𝒔, 𝒒𝒖𝒂𝒓𝒆𝒏𝒕𝒂 𝒓𝒆𝒂𝒊𝒔 𝒑𝒂𝒓𝒂 𝒏ã𝒐 𝒕𝒆𝒓 𝒎𝒆𝒖 𝒄𝒂𝒓𝒓𝒐 𝒇𝒖𝒓𝒕𝒂𝒅𝒐 𝒏𝒂 𝒑𝒐𝒓𝒕𝒂 𝒅𝒆 𝒄𝒂𝒔𝒂, 𝒑𝒂𝒓𝒂 𝒏ã𝒐 𝒄𝒐𝒓𝒓𝒆𝒓 𝒐 𝒓𝒊𝒔𝒄𝒐 𝒅𝒆 𝒗𝒆𝒓 𝒐 𝒇𝒊𝒍𝒉𝒐 𝒅𝒆 𝒖𝒎 𝒂𝒎𝒊𝒈𝒐 𝒊𝒓 𝒑𝒂𝒓𝒂 𝒐 𝒕𝒓á𝒇𝒊𝒄𝒐, 𝒅𝒆 𝒕𝒆𝒓 𝒖𝒎 𝒇𝒊𝒍𝒉𝒐 𝒆𝒎𝒑𝒖𝒓𝒓𝒂𝒅𝒐 𝒑𝒂𝒓𝒂 𝒂𝒔 𝒅𝒓𝒐𝒈𝒂𝒔. 𝑷𝒆𝒓𝒈𝒖𝒏𝒕𝒆 𝒂 𝒒𝒖𝒂𝒍𝒒𝒖𝒆𝒓 𝒎𝒐𝒓𝒂𝒅𝒐𝒓 𝒅𝒆 𝒖𝒎𝒂 𝒅𝒆𝒔𝒔𝒂𝒔 𝒄𝒐𝒎𝒖𝒏𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆𝒔 𝒔𝒆 𝒆𝒍𝒆 𝒒𝒖𝒆𝒓 𝒐𝒖𝒕𝒓𝒂 𝒄𝒐𝒊𝒔𝒂, 𝒔𝒆 𝒒𝒖𝒆𝒓 𝒔𝒂𝒊𝒓 𝒅𝒆 𝒍á, 𝒔𝒆 𝒏ã𝒐 𝒆𝒔𝒕á 𝒇𝒆𝒍𝒊𝒛 𝒅𝒆 𝒑𝒐𝒅𝒆𝒓 𝒄𝒐𝒏𝒗𝒆𝒓𝒔𝒂𝒓 𝒄𝒐𝒎 𝒔𝒆𝒖𝒔 𝒗𝒊𝒛𝒊𝒏𝒉𝒐𝒔 𝒏𝒂 𝒄𝒂𝒍ç𝒂𝒅𝒂 𝒂𝒕é 𝒕𝒂𝒓𝒅𝒆 𝒅𝒂 𝒏𝒐𝒊𝒕𝒆!”

A divulgação em abril do ano passado de escutas telefônicas feitas pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, e que revela a crença de uma das irmãs do ex-policial militar Adriano da Nóbrega de que ele foi assassinado em uma queima de arquivo cujos mandantes remontam ao Palácio de Planalto, não é a única suspeita levantada sobre a associação da Família Bolsonaro com as milícias. O pesquisador e jornalista Bruno Paes Manso traz informações preciosas na sua obra “A República das Milícias”.


O clã Bolsonaro tem papel muito importante na proteção política das principais figuras ligadas à expansão miliciana no Rio. Vínculos não só pessoais: a família se tornou porta-voz desses grupos no Legislativo estadual e federal. A trajetória de Flávio Bolsonaro está ligada umbilicalmente à propagação destas organizações criminosas em áreas que se tornaram sua principal base eleitoral.


Desde que foi eleito deputado pela primeira vez, em 2002, o “zero um” se notabilizou por distribuir condecorações a policiais, defendendo ferozmente aqueles denunciados por assassinatos e diversas outras ilegalidades. Fabrício Queiroz, amigo da família desde os anos 1980, e motorista de jipe do atual Vice-Presidente Hamilton Mourão na Vila Militar do Rio de Janeiro em 1987, foi laureado por Flávio. Adriano da Nóbrega recebeu uma das maiores honrarias fluminenses pelas mãos do deputado, a Medalha Tiradentes. Detalhe, já depois de acusado pelo assassinato do guardador de carros Leandro dos Santos Silva, em 2004.


Tatiana, uma das irmãs do ex-policial captada nas escutas, insiste nos áudios que o irmão não era um miliciano, e sim um bicheiro. Ela não está de todo errada. Adriano da Nóbrega era ligado a figuras chaves do Jogo do Bicho pelo menos desde a infância, quando seu pai trabalhava no Haras do “Banqueiro do Bicho” Maninho. Em 2005, já um Sniper formado pelo BOPE, Adriano se tornou segurança e integrante do Escritório do Crime, esquadrão de homicidas empregado pela máfia da jogatina.


O que Tatiana não imagina é que desde 2015, muito antes que fosse crível que Bolsonaro um dia chegasse à Presidência da República, escutas do Ministério Público apontavam seu irmão como chefe das milícias da Muzema e do Rio das Pedras, Zona Oeste do Rio.


Participar de esquadrões da morte e ser proprietário de dezenas de pontos de máquinas eletrônicas do Bicho não obstaculizavam a participação do ex-capitão nas ilegalidades das milícias, pelo contrário.


Desde os anos 1980, o modelo de milícia das áreas de Jacarepaguá e Barra da Tijuca envolvia policiais que cobravam taxas de proteção para manter as casas e comércios ''seguros'', e que se uniam a associações de moradores, que garantiam “currais eleitorais” em troca de benefícios de políticos em campanha [como redes de esgoto e doações de terrenos para novas construções]. A negociata desembocou em “investimentos” e “golpes” em grilagens e construções ilegais, aproveitando o exponencial crescimento imobiliário e demográfico daquela área da cidade.


O envolvimento de Adriano da Nóbrega com algumas das principais organizações criminosas do Rio de Janeiro não impediu que Flávio Bolsonaro contratasse a mãe do bicheiro, sicário e miliciano para seu Gabinete, já em 2016.


Quando Jair Bolsonaro se tornou Presidente da República, as ligações da família com a corrupção policial, máfias de jogo, milícias, e grupos de execução sumária etc. passaram a amedrontar o Palácio do Planalto. E também o país, que testemunhou, estupefato, o enredamento das mais altas esferas do poder Executivo com o esgoto da sociedade brasileira.

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