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Foto do escritorAlípio Macêdo

Chico Science: 26 anos sem o malungo




Há 26 anos, Francisco de Assis França, o Chico Science, nos deixava. O vocalista da Nação Zumbi morreu em um acidente de carro no dia 2 de fevereiro de 1997. Com a ciência que recebera dos Encantados e com o mesmo espírito de canibalismo de Oswald de Andrade e do tropicalismo, amalgamando Homens e Caranguejos (o romance do Ciclo do Caranguejo), afrofuturismo, afrobeat, pós-punk, música eletrônica, samba-reggae, funk, hip hop, maracatu e embolada, deglutiu dois álbuns: Da Lama ao Caos (1994) e Afrociberdelia (1996) -- aquele foi eleito o melhor disco da MPB nos últimos 40 anos.


Este fragmento da letra da música Malungo sintetiza esse espírito do Manguebeat -- cujas bases foram lançadas por ele e por Fred Zero Quatro, do Mundo Livre S/A: "Tô na parada, E de repente tô embolando, Hip hop e batucada (Demorou!), Fazendo a frente"


A obra de Chico Science não se trata de bem cultural que é tão somente insumo, matéria bruta para exportação -- traçando um paralelo com a perda de participação do Brasil nas exportações mundiais da indústria de transformação.


Chico Science & Nação Zumbi salvaram nossa cultura deglutindo o que veio de fora e devolveram um produto cultural e inacabado (porque ainda aberto), revolucionário e brasileiro, brasileiríssimo, desprovido de "macumba para turista", demonstrando que é possível um nacionalismo sem chauvinismo.


A exemplo do anarquista Bakunin, Chico Science se sentia um patriota de todas as pátrias oprimidas e, a um só tempo, o brasileiro mais ufanista.


Pois, como assinalou Josué de Castro, autor de um dos evangelhos do Malungo, o romance Homens e Caranguejos, o que se pensa ser um fenômeno local, um drama de favelas brasileiras, é um drama universal:


"(...) Que a paisagem humana dos mangues se reproduzia no mundo inteiro. Que aquêles personagens da lama do Recife eram idênticos aos personagens de inúmeras outras áreas. do mundo assoladas pela fome. Que aquela lama humana do Recife, que eu conhecera na infância, continua sujando até hoje tôda a paisagem do nosso planeta como negros borrões de miséria. As negras manchas demográficas da geografia da fome."

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