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Favela: mais brancos do que pretos e perfil acaboclado

O IBGE divulga hoje uma série de dados do censo 2022 sobre a favelização no país. As estatísticas impressionam. 8,1% da população vive em favelas, o que já seria muito ruim, mas a distribuição pelo território nacional torna tudo ainda mais tenebroso.


Favela brasileira

A proporção de favelados chega a 18,9% na Região Norte, e cai para cerca de 2 ou 3% no Centro-Oeste e no Sul. [Nordeste e Sudeste estão na média nacional.] As três Unidades da Federação com o maior percentual de favelados também ficam no Norte: incríveis 35% no Amazonas, 25% no Amapá e 19% no Pará. Também são de lá as cinco cidades brasileiras com maior proporção de favelados, sendo que duas capitais estão neste recorte: 57% de Belém e 55% de Manaus. Das 20 maiores favelas do país, 8 estão na região Norte. O Sudeste, oito vezes mais populoso, tem sete favelas no top 20, o Nordeste tem quatro.


Olhando em termos absolutos, o Sudeste tem mais de 7 milhões de favelados. Mas o Norte tem mais de 3 milhões, uma desproporção dada a diferença demográfica entre as duas regiões. Ainda que tenha apenas 5% da população de todo o Brasil, o Norte tem 20% dos favelados. Ora, a maior parte dos pardos na região Norte é cabocla; são em grande parte pessoas com biotipo e ascendência mista, branca e indígena - e não afrodescendentes. Contudo, os documentos oficiais referem-se a todos como sendo "negros".


Escola no Amazonas

Há um desvio de cor de pele na estatística que não impede de dizer que o rosto típico do favelado é pardo [57%], e que há mais brancos que pretos morando em favelas

O Norte tem pouco mais de 5% da população total do país. Mas 20% de todos os favelados. Nessas favelas, 70% são pardos e 20% brancos.

Ter isso em mente ajuda a dimensionar os recortes raciais. Segundo o IBGE, 57% dos favelados são pardos [ da média de 45% de pardos no total da população brasileira]. É possível tirar algumas informações desses números:


  1. Diferentemente do que muitos imaginam, as favelas brasileiras não são redutos principalmente de pretos ou de afro-descendentes. Tal recorte de cor de pele representa apenas 16% dos favelados. Ou seja, mais de 4/5 dos favelados brasileiros não são pretos.

  2. É falso dizer que não existem brancos em favelas. Eles são quase 27% do total - percentagem maior do que os 16% de pretos. Portanto, é mais fácil encontrar um branco numa favela brasileira do que um preto.

  3. Cerca de 57% dos favelados se identifica como pardo, não como preto, branco, amarelo ou indígena. Dado o peso imenso e terrivelmente desproporcional do Norte do país entre os favelados [20% do total], chega a ser criminoso tentar sinonimizar favela à afro-descendência. Não que nas outras regiões se possa fazer essa equalização, afinal, pardo não é necessariamente sinônimo de afro-descendente em lugar algum do país. Estou apenas acentuando o dado mais óbvio: a população "parda" (ou seja, mestiça) do Norte é principalmente cabocla, mameluca e cafuza. E não mulata.


Favela brasileira

Reportagem sobre a favela Rio das Pedras

É o contrário do que estão dizendo algumas das manchetes sobre o assunto - isso acontece porque a imprensa frequentmente considera que "pardos" são "negros", assim como o faz o Estatuto da Igualdade Racial, que soma "pretos" e "pardos" para assim chegar a um número total de "negros", em terminologia contraintuitiva. A favela, assim como o Brasil, tem perfil diversificado, contando, em sua população, com brancos, pretos, caboclos, mulatos, pardos e alto índice de mestiçagem.


Nesta primeira postagem sobre o tema, chamo atenção para a insanidade que seria tornar políticas públicas para favelados em políticas exclusivamente para pretos ou afro-descendentes. Brancos e pardos sem identidade ou biotipo necessariamente afro-descendente formam a maioria nas favelas do Brasil.


Favela em Belém do Pará

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