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Foto do escritorAlípio Macêdo

José Lins do Rego e a saga regionalista-universal

"[...] as caatingas sertanejas, a floresta amazônica, as montanhas mineiras, os pampas gaúchos entram cidades a dentro, sobem para os arranha-céus e vão ajudar o homem moderno a ser mais humano, a ser mais da sua terra, a ser mais gente do que somente uma pobre máquina de viver"

José Lins do Rego. "A casa e o homem". Rio de Janeiro: Organização Simões, 1954, p. 7-14


No dia 12 de setembro de 1957, o escritor José Lins do Rego morria no Rio de Janeiro.


Nascido em 3 de junho de 1901, na cidade de Pilar, no estado da Paraíba, José Lins do Rego foi um dos mais engenhosos autores do chamado Romance de 1930 ou, como muitos preferem dizer, Romance Regionalista.



A despeito do vocábulo "regionalista" evocar provincianismo, esses romances, partindo de uma meditação do escritor sobre o seu mundo, seu engenho (no caso do escritor paraibano), universalizam-se pela capacidade do artista de captar a ideia de atemporalidade de sua aldeia-mundo, do seu engenho-mundo e transplantá-la para a obra. Para Gilberto Freyre,


"Os romancistas, contistas e escritores atuais têm medo de parecer regionais, esquecidos de que regional é o romance de Hardy, regional é a poesia de Mistral, regional o melhor ensaio espanhol: o de Gavinet, o de Unamuno, o de Azorin".


Como disse Fernando Pessoa, "O provincianismo consiste em pertencer a uma civilização sem tomar parte no desenvolvimento superior dela — em segui-la pois mimeticamente, com uma subordinação inconsciente e feliz", o que não foi o caso dos escritores filiados ao Romance de 1930, profundamente comprometidos com a então nova organização social brasileira, seja na arena política, seja no âmbito cultural, imbuídos da consciência de que o regional e o sentido tradicional de Brasil poderiam balancear nossa onda modernizante, senão padeceríamos sob uma torrente de cosmopolitismo e de deletéria modernização.


Citando novamente Freyre,


"Os animadores desta nova espécie de regionalismo desejam ver se desenvolverem no País outros regionalismos que se juntem ao do Nordeste, dando ao movimento o sentido organicamente brasileiro e, até, americano, quando não mais amplo, que ele deve ter".


A propósito, há quem veja dialogicidade entre os romances do “Ciclo da cana-de-açúcar", de Lins do Rego, e a obra de Freyre. Lins do Rego pintou um exuberante mural do nosso patriarcado, uma espécie de muralismo brasileiro em cinco livros, complementando a interpretação do seu amigo pernambucano.


"A sustança do Brasil provém das nossas próprias entranhas"

Antes de Ariano Suassuna, e precedido por Araripe Júnior, autor de O Reino Encantado (1879), Zé Lins lançou mão do movimento sebastianista de Pedra Bonita como tema de livro, lançado o díptico Pedra Bonita (1938) e Cangaceiros (1952), sua gesta de cangaceiros e de beatos.


José Lins do Rego também foi pioneiro na crônica futebolística, sendo, bem antes de Nelson Rodrigues, um dos primeiros, entre os nossos grandes autores, a escrever e a polemizar sobre futebol. Apaixonado pelo Flamengo, se tornara sócio do clube da Gávea, e tornou-se um dirigente do time, chegando, inclusive, a ser chefe de delegação durante a primeira excursão do Rubro-Negro na Europa.


Por esses motivos, a obra de José Lins do Rego é indispensável para a compreensão da história do Brasil, sobretudo numa conjuntura em que o reavivamento do nacionalismo volta à ordem do dia. Parafraseando o eterno "menino de engenho" — que não tinha medo de ser regional, aliás, profundissimamente regional —, a sustança do Brasil provém das nossas próprias entranhas.




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