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Foto do escritorUriel Araujo

Lula "trabalhando" na UTI: golpe institucional

Neste exato momento, o Presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, está na UTI, devido a traumatismo craniano e hemorragia no cérebro, recuperando-se de procedimentos cirúrgicos na cabeça (até agora, três). Mesmo assim, ele está trabalhando, lá da UTI, despachando e sancionando leis (!!!!). É o que afirmam Ministros de Estado. E a imprensa noticia isso com naturalidade, enfatizando o tempo todo como a saúde do Chefe de Estado de 79 anos está "ótima", mesmo ele tendo passando pro três procedimentos na última semana e mesmo estando com trauma significativo na cabeça na região occipital há dois meses (em virtude dum suposto acidente doméstico).



Segundo Alexandre Padilha, Ministro das Relações Institucionais,


o combinado [é que] tudo aquilo que tenha prazo para sanção, ele [Lula] está assinando. Tem um mecanismo, que quem conduz é a Casa Civil, dessa assinatura…


Tanto é assim que podemos ler, em manchete da Agência Brasil, que "Lula sanciona lei que regula mercado de carbono no Brasil" (12/12/2024):


O presidente Lula assinou a nova lei nesta quarta-feira (11), no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde está internado para tratamento de uma hemorragia intracraniana consequência de um acidente doméstico sofrido em 19 de outubro, quando caiu no banheiro da residência oficial e bateu com a cabeça.

O ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que todos os pontos do texto, aprovado pelo Congresso no mês passado, já haviam sido discutidos previamente com Lula, e que ele está em “exercício permanente” da Presidência. 


Isso no momento em que tramita projeto de reforma tributária, entre outras questões de extrema importância. Ao invés de dizer explicitamente que alguém, autorizado a tanto, está assinando pelo Lula [mesmo enquanto ele está inconsciente ou convalescente], o Ministro nos apresenta uma história infantil e inverossímil, na qual um idoso de 79 anos internado (paciente oncológico, com traumatismo craniano e hemorragia cerebral com complicações, que precisou ir de avião ao hospital para uma cirurgia de emergência) está muito disposto "trabalhando" e "despachando" lá da UTI. Trata-se de um insulto à inteligência e maturidade de todos os brasileiros e até de toda a comunidade internacional.


"Lula" sancionando a todo o vapor - da UTI
"Lula" sancionando a todo o vapor - da UTI, entre uma cirurgia no cérebro e outra

O que está ocorrendo é literalmente um golpe institucional. O correto seria, em virtude de um afastamento temporário por motivo de saúde, o Vice-Presidente Geraldo Alckmin assumir até que Lula esteja apto a retomar suas atividades normais. É o que está previsto na Constituição e o que normalmente ocorreria. O que está sendo feito, em vez disso, é seguir um "combinado" (nas palavras do Ministro Alexandre Padilha) e, então, simplesmente deduzir que o Chefe de Estado está de acordo com tudo e não tem razão para mudar de ideia e, assim, sancionar uma série de leis por meio de assinatura digital ou eletrônica, certamente através de algum Assessor - produzindo-se, assim a ficção de que Lula está "sancionando" isto e aquilo, enquanto se recupera de cirurgias na cabeça e enquanto não está ainda claro qual é o seu verdadeiro quadro de saúde. Cabe indagar:


  1. Quem está decidindo o que é para ser assinado primeiro? Reportando-se a quem?

  2. Qual é o critério de priorização?

  3. Em outras palavras, quem está de facto governando o Brasil neste exato momento?



O momento de "afastamento" ou de "transição" (não sabemos ainda o que acontecerá ou o que aconteceu) pode ser uma janela de oportunidade para furtivamente "sancionar" rapidamente, por meio de tal mecanismo, mais pacotes anti-populares, conforme o ideário neoliberal que informa toda a equipe do atual governo e o PT.


Ora, todos sabemos que, na prática, os Chefes do Poder Executivo frequentemente não assinam os documentos eles mesmos; alguém de confiança o faz - um Assessor utiliza o Certificado Digital de seu chefe e assina por ele - até aí, não há problema algum. Era essa a prática comum mesmo quando só se tinha firma física (sem assinatura digital). Porém, como o Comandante-em-Chefe não está em condições (e é evidente que não está), então, neste caso, ninguém pode assinar em nome dele porque ele poderia mudar de ideia a qualquer momento por qualquer razão, por exemplo. É por isso que, com a ajuda de uma imprensa surrealmente chapa-branca, está sendo produzida a ficção inverossímil de Lula "comendo" imediatamente após uma cirurgia no cérebro, "conversando", "em perfeitas condições" etc - sem que nenhuma foto ou vídeo dele tenha sido publicado nas redes sociais da Primeira-Dama Janja da Silva que é praticamente a única que está tendo acesso a ele.


Em meio a essa situação esdrúxula de intriga palaciana, "cover-up" e golpe institucional, além de queda-de-braço entre facções do governo, assombra, entre outros (como Marco Aurélio Santana Ribeiro ou Marcola, Chefe de Gabinete), o espectro de Janja: em entrevista à CNN, o José Dirceu disse que Janja, a Primeira-Dama, atua como "conselheira influente" do Presidente e que nisso não há problema algum:


“A primeira-dama, ela defende uma pauta das mulheres, antirracista, anti-homofobia, do meio ambiente, social. Por que o presidente pode ter amigos que são conselheiros dele influentes, como vocês mesmos reconhecem, e ela não pode ser uma conselheira influente do presidente? É machismo? É preconceito? Eu não vejo nenhum problema nisso”.










A Influência raputinesca de Janja, a Primeira-Dama, contudo, vai muito além do razoável - mas este é tema para outra ocasião. Por ora, basta comentar o seguinte: Segundo matéria da UOL, com o atual quadro da saúde de Lula, há uma disputa em curso entre a Primeira-Dama e a Secretaria de Comunicação Social (SECOM), órgão da Presidência da República que atualmente incorpora também a Secretaria de Imprensa e Porta-Voz, responsável pelas relações entre governo e a mídia. A matéria também cita Paulo Pimenta, o Ministro-Chefe da Secretaria de Comunicação Social.


As notícias sobre o estado de saúde de Lula estão sendo repassadas à imprensa pelo médico do presidente, Roberto Kalil, sem a participação da Secom.

[...] O UOL apurou que esse procedimento, sem o envolvimento da Secom, atende a um desejo de Janja.

A primeira-dama quer decidir quais informações serão passadas aos jornalistas e em quais condições isso irá ocorrer.

Janja e assessoras próximas travam uma disputa com a Secom pelo controle da comunicação do governo - principalmente da imagem de Lula.

Os principais personagens dessa disputa são, além de Janja e Pimenta, José Chrispiniano, assessor de imprensa de Lula há mais de uma década; Ricardo Stuckert, fotógrafo que acompanha o presidente desde o primeiro mandato; e Brunna Rosa, ligada a Janja, secretária de Estratégia e Redes do governo.

Brunna Rosa é apontada no governo como o braço direito da primeira-dama na comunicação, respondendo diretamente a ela, e não ao ministro.


Imagine a situação em que Ministros de Estado precisem se reportar à Primeira-Dama (uma função meramente cerimonial), ou seja, a alguém que não possui cargo algum, não foi nomeada, não é eleita ou concursada, não é servidora nem agente pública e, portanto, não se submete à prestação de contas alguma. Tem-se aí também uma usurpação e, em alguma medida, parte de um cenário de golpe institucional. Pergunto: A quais interesses ela se alinha? Quem faz parte de sua rede de influência?


Em qualquer nação soberana decente, verdade seja dita, os serviços de inteligência no mínimo estariam monitorando a Primeira-Dama bem de perto.


Sobre a saúde do Presidente, recapitulando, foram recentemente realizados pelo menos três procedimentos:


  1. o primeiro foi uma cirurgia de emergência no crânio para drenar hematoma, na madrugada da terça-feira (10 de dezembro de 2024). Ele estava com hemorragia intracraniana e, não se sabe bem o porquê, foi levado às presas de Brasília para São Paulo, de avião, para o procedimento - há hospitais na capital da República, o que indica que foi algo sério. A hemorragia seria em decorrência de acidente doméstico que Lula teve quase dois meses antes, em 19 de outubro.

  2. O segundo foi na quinta-feira dia 12 de dezembro, pela manhã, para drenagem do hematoma, evitando novos sangramentos.

  3. O terceiro, no mesmo dia (12 de dezembro), à noite, foi para retirar o dreno.


Também foi feita embolização de artéria meníngea média, um procedimento novo.


No dia 10, após a primeira cirurgia de emergência, temos notícias de que, segundo os médicos, Lula estaria "consciente, conversando, comendo". Ora, é evidente que não é recomendável alimentar um paciente pós-operatório por via oral. Como comentou um médico em rede social: "Acabo de ler um colega que disse que uma hemorragia subaracnoide em um idoso de 80 anos que precisou de craniotomia não era grave. Acho que desaprendi medicina. Que Deus abençoe vocês gente" (sic).


A falta de fotografias ou vídeos do Presidente aumentam a desconfiança de que alguma coisa está sendo ocultada. Nas redes sociais da Primeira-Dama, nada. Segundo matéria do Poder 360, Lula poderia ter morrido no dia 09 de dezembro, esta segunda-feira - e foi salvo por um empresário. E mais, o Presidente foi ao hospital às escondidas, despistando-se a imprensa:


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 79 anos, correu risco de morte na 2ª feira (9.dez.2024) quando teve fortes dores que o levaram ao hospital, onde um sangramento intracraniano, que atingiu uma área de aproximadamente 3 cm de extensão, foi identificado no lado esquerdo da cabeça. O hematoma já pressionava o seu cérebro e, caso houvesse demorado mais algumas horas para ter uma avaliação médica, poderia ter chegado a um quadro de coma, que é quando o paciente entra em um estado profundo de sono, em que não pode ser acordado.

[...] Coube ao empresário José Seripieri Filho, que era conhecido com “Júnior da Qualicorp”, avisar ao médico pessoal de Lula, o cardiologista Roberto Kalil Filho, que o presidente não estava bem. O agora dono da Amil esteve com o petista em uma reunião que não estava marcada na agenda oficial e que não foi registrada até o momento. Júnior é amigo de Lula. Em 2022, ele deu carona em seu avião Gulfstream G600 ao petista, ainda quando era presidente eleito, numa viagem para o Egito, onde participou da COP27.

[...] Kalil, que estava em São Paulo, pediu à médica da Presidência da República, a infectologista Ana Helena Germoglio, que fosse examinar o presidente em seu gabinete. Ela também achou que ele não estava bem e os 2 médicos decidiram que Lula fosse levado ao hospital Sírio-Libanês, em Brasília. Lula chegou ao local por volta das 18h30. O comboio presidencial deixou o Palácio do Planalto pelos fundos e a bandeira-insígnia da Presidência da República continuou hasteada até 20h. O símbolo indica a presença do presidente em determinado local e sua permanência hasteada quando Lula já havia deixado o local é um erro. Esse procedimento foi usado para despistar a mídia, pois os jornalistas ficaram sem saber que o petista havia saído do Palácio.

[...] No limite, com o sangramento evoluindo, Lula poderia estar morto na manhã de 3ª feira se nada tivesse sido feito. A equipe médica, incluindo neurocirurgiões, decidiu levar Lula para São Paulo mesmo que a viagem oferecesse riscos. Os profissionais consideraram que a hemorragia estava em uma área em que já havia tido outro sangramento, logo após o acidente doméstico de outubro. Dessa forma, o cérebro estava “acostumado” com a pressão e o presidente poderia suportar a viagem de cerca de 1h30. O presidente viajou no Airbus A319CJ, identificado pela FAB (Força Aérea Brasileira) como VC-1 e conhecido como Aerolula, para a capital paulista por volta das 23h. Lula usou oxigênio durante todo o trajeto. Até a publicação deste post, o que se sabia era que a viagem havia sido em um avião da FAB, pois o Planalto e as Forças Armadas se negavam a dizer qual foi exatamente o equipamento utilizado.



Cabem alguns questionamentos:


  1. Por que o Presidente saiu pelos fundos e por que a bandeira da Presidência continuou hasteada? Qual era a necesidade de despistar a imprensa?

  2. Por que foi necessário levar o Lula de Brasília a São Paulo? Por que não se tratar em Brasília? Não existem bons hospitais na capital da República? Compensa o risco do trajeto? Por quê?

  3. Por que se negar a divulgar qual foi o avião utilizado? Por que tanto segredo?

  4. Por que o Vice-Presidente Geraldo Alckmin não assume interinamente até Lula receber alta?

  5. Por que a pressa em sancionar leis enquanto Lula está no hospital, usando-se um "mecanismo" através de um "combinado"? Quem está decidindo qual é a prioridade?

  6. Por que noticiar constantemente que a saúde de Lula está "ótima" e "perfeita", se ele supostamente quase morreu e em menos de uma semana ele já passou por três procedimentos?

  7. Se Lula está "comendo" e "conversando" por que não é publicada nenhuma foto ou vídeo dele?

  8. Porque a SECOM não tem acesso às informações médicas do Lula e porque a Janja quer decidir o que é divulgado e o que não é?

  9. Qual é o verdadeiro quadro de saúde de Lula?

  10. Por que não estamos vendo médicos, jornalistas políticos e juristas influentes questionando tudo isso?

Hoje (sexta-feira 13 de dezembro de 2024) o principal jornal do Brasil não publicou absolutamente nada sobre a saúde do Presidente da República. Nenhuma notinha, nenhum informe. Nada. É no mínimo estranho. Desde o início tem havido uma falta de transparência e indícios de acobertamento. O que está acontecendo? Por exemplo, já se sabia antes que seria preciso fazer o segundo procedimento, mas isso não foi divulgado. Creio que não preciso me alongar muito mais quanto a isso.


Se as mídias sociais da Presidência divulgarem alguma mensagem do Presidente em vídeo curto, isso ajudaria a eliminar boatos e teorias da conspiração. Recentemente, os EUA passaram por um escândalo envolvendo uma operação para abafar e esconder da sociedade o verdadeiro quadro médico e cognitivo do ainda Presidente em exercício Joe Biden (Donald Trump tomará posse ano que vem). Temos uma situação análogo no Brasil, um "Biden brasileiro"?


Biden tropeçando na rampa do avião presidencial. Fonte: "Biden falls as he climbs up stairs to Air Force One" (NewYork Post)
Biden na rampa do avião presidencial. Fonte: "Biden falls as he climbs up stairs to Air Force One" (NewYork Post)

O fator biológico-cronológico é real, lembrete de nossa mortalidade e os Chefes de Estado não são excepção - embora certamente gostariam que fosse o caso. Seja como for, o que piora mais ainda o clima atual é o fato de que o Brasil já possui uma tradição de encobertamento nesse sentido ou ao menos um suposto precedente: basta lembrar do caso de Tancredo Neves (Presidente eleito que nunca chegou a tomar posse) cuja própria morte parece ter sido escondida do público por dias, sendo anunciada só no dia 21 de Abril, Dia de Tiradentes. A verdade é que como Tancredo Neves (que seria o primeiro Presidente civil eleito após o fim do regime civil-militar) não chegou a tomar posse como Presidente, constitucionalmente não fazia sentido assumir seu Vice (José Sarney) - era o caso de se convocar novas eleições. Porém, Sarney assumiu mesmo assim (o que também foi um golpe interno). Isso mostra que a Nova República já nasceu golpista.



A saúde de um Chefe de Estado também é um tema de interesse público - e até de Segurança Nacional. Se serve como um lembrete da mortalidade humana, também deveria inspirar brasileiros no geral a pensarem nos rumos do Brasil pós-Lula. Trata-se de tema sobre o qual os petistas, por alguma razão estranha, não gostam de pensar. Por enquanto, contudo, o mais urgente é saber quem está tomando as decisões. E até quando levarão a cabo o cover-up, a cortina de fumaça de informações e o golpe institucional que está em andamento.


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Atualização (13 de dezembro de 2024 - 11h44)


Com a saída de cena de Lula, novas configurações de poder se desenham - à revelia da organização do Estado prevista pela Constituição:


Com o petista na UTI, quem comandou o país foi o chefe da Casa Civil, Rui Costa. E Geraldo Alckmin, o vice? “Fez representação em eventos”, diz um ministro.


A pergunta continua sendo: por que Lula não se licenciou (já que está "está proibido de realizar atividades de trabalho até se recuperar completamente") e por que Alckmin não assume como presidente interino? Por que Lula supostamente segue despachando da UTI?


As opiniões expostas neste artigo não necessariamente refletem a opinião do Sol da Pátria




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