Campina Grande nasceu como uma paragem para os índios, tropeiros e plantadores de algodão que iam e vinham do Sertão ao litoral. O clima fagueiro e a natureza agreste da Serra da Borborema eram um convite para que os viajantes apeassem seus burros e montassem acampamento, muitas vezes aproveitando a estadia para fazer comércio.
"Em Campina Grande, é Tradição que na véspera do dia de Santo Antônio seja realizado um imenso e belo casamento coletivo. Desde 1983 ele ocorre no lugar mais especial do Parque do Povo, em sua famosa Pirâmide, que também é o palco dos festivais de quadrilhas. Neste ano, no primeiro festival após a pausa de dois anos, foram celebrados mais de 100 matrimônios de uma só vez".
Foi nas estradas carroçais, traçadas instintivamente como a rosa cardeal, que se ergueu a Vila Nova da Rainha, sede da catequese dos índios Cariris e depois dos Ariús. E foi no cruzamento dessas mesmas estradas que foram celebradas, nos terreiros da Igreja de Nossa Senhora Da Conceição, as primeiras quadrilhas em homenagem a São Pedro, Santo Antônio e São João.
Em Campina, o mês de Junho é o mais aguardado do ano. O clima serrano que desce no agreste e agasalha seu povo anuncia também um tempo de fartura e prosperidade, seja pelas colheitas de inverno que chegam às feiras, seja pelas festas populares que atraem os visitantes de toda parte. É, afinal, o mês do Maior São João do Mundo, evento que durante 30 dias ininterruptos traz à Campina os artistas mais populares do Nordeste e coloca a Rainha da Borborema no circuito das grandes festas nacionais.
Este grandioso evento teve como marco principal a fundação do Parque do Povo, ocorrida em 1983 por obra do então prefeito Ronaldo Cunha Lima, o “prefeito poeta”. O espaço, que logo seria apelidado de “quartel-general do forró”, tinha por objetivo concentrar as festas juninas no centro da cidade, aumentando a participação do povo campinense e oferecendo um palco à altura dos tradicionais festivais de quadrilha.
Mas logo se viu que os dias santos não bastariam para tanto festejo, de modo que a folia foi se estendendo pelas semanas até ocupar todo o mês de Junho. Daí veio a alcunha de Maior do Mundo, que só seria contestada pela primeira vez, e sem sucesso, onze anos depois, pelo imponente São João de Caruaru em seu Pátio de Eventos Luiz Gonzaga.
Embora a amigável contenda se mantenha, a verdade é que tanto o São João de Campina quanto o de Caruaru vão muito além dos seus quartéis. Há quem reclame inclusive que estes não passam de cartões-postais, cada vez mais pasteurizados segundo as modas vigentes. Os camarotes e áreas-vip certamente não agradam aos mais saudosos, que veem o espaço outrora dado aos fiteiros e feirantes ser loteado por franquias multinacionais.
Mas tal como a brasa no frio noturno, outro São João resiste bravio e se manifesta nas palhoças do parque, nas casas, nas feiras, nas praças e igrejas da cidade, sempre colorido pelos estandartes dos santos, suas bandeirinhas e balões. É uma tradição perene que faz com que os bairros e escolas de Campina mantenham suas próprias quadrilhas, e que cada rua, à despeito das crescentes restrições, ergam seus fogaréus bem altos, atraindo as tanajuras.
Todo mês de junho é certo que haja bancas nas calçadas vendendo as habituais bombinhas: traques de salão, chuveirinhos, bujões, peidos de velha e rasga-latas são algumas que divertem e ensurdecem a meninada. Já os balões, símbolos eternizados na voz de Elba Ramalho (“olha pro céu meu amor, vê como ele está lindo...”) rareiam no céu urbano mas ressurgem como adereço nas portas das casas, nos varais e nos retrovisores dos taxistas.
Nas casas, é de costume que os balõezinhos dividam a vista com laços e enfeites de palha e de chita, que por sua vez estampam salas, terraços e cozinhas. E há, por fim, as mesas fartas que reúnem famílias e amigos em verdadeiros banquetes. Dominadas pelo amarelo solar, estas mesas carregam séculos de culinária baseada no milho e remetem a um tempo ainda mais primordial, quando as festas juninas ainda eram rituais pagãos.
Em Campina Grande, é Tradição que na véspera do dia de Santo Antônio seja realizado um imenso e belo casamento coletivo. Desde 1983 ele ocorre no lugar mais especial do Parque do Povo, em sua famosa Pirâmide, que também é o palco dos festivais de quadrilhas. Neste ano, no primeiro festival após a pausa de dois anos, foram celebrados mais de 100 matrimônios de uma só vez. E hoje, no dia de São João, continuamos celebrando a vida e a fecundidade nesta data sagrada para tantos povos, sempre com muito forró.
É por tudo isso que dizemos, sem titubeio, que o Maior São João do Mundo é aqui, na capital do interior do Nordeste, na eterna Vila Nova da Rainha.
Viva São João!
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