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Resenha: "Os Sete Gatinhos", de Nelson Rodrigues


''Os Sete Gatinhos", uma das obras primas de Nelson Rodrigues. A peça, uma tragédia carioca definida pelo autor como ''divina comédia'', estreou em 1958. O mal age por trás e através das convenções sociais e dos incontidos desejos sexuais, e se mistura com motivos da tragédia clássica.


Entre os gregos, a via da superação, da virtude e do heroísmo levava à derrocada dos protagonistas, causando estupefação e temor frente à inexorabilidade do destino humano. Com imensa verve cristã, Nelson aprofunda o tema no sentido literal da expressão.


Aqui, a cumplicidade com o vício estabelece uma ordem invertida que leva à banalização da tragédia e, principalmente, ao patético e ao bizarro, descambando no sarcasmo misturado à loucura, única reação possível à lassidão humana com a própria corrupção, percebido como costume instituído e previsível absurdo cotidiano.


A obra foi transposta para o cinema e gerou um dos melhores filmes nacionais, dirigido por Neville d'Almeida -- e estrelando Lima Duarte, Telma Reston, Antônio Fagundes, Ary Fontoura e Cláudio Corrêa e Castro, dentre outros --, e cujo roteiro acrescenta, em sua fidelidade a Nelson, uma frase crucial e lapidar à narrativa: "Quem foi que desenhou caralhinhos voadores na parede do banheiro?!"

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