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Viradouro e a mística perfeitamente brasileira




A Viradouro, campeã de 1997 e 2020, escolheu um puta enredo pra este Carnaval: vai falar sobre o protagonismo feminino e negro resgatando Rosa Maria Egipcíaca, escrava mina que chega ao Rio no início do século XVIII, e é vendida para o meretrício em Minas Gerais.


Por volta dos trinta anos de idade, Rosa tem uma doença esquisita e que incha seu estômago, e, quase que em uma iniciação xamânica, passa a ter visões e possessões místicas. Vira uma grande beata, que se dizia dominada por sete demonhos e era exorcizada pelo Padre local.


Depois de uma série de confusões, que incluíam seu status de vidente, curadora e seu "conhecimento do estado das almas", é punida severamente no pelourinho. Volta pro Rio de Janeiro e continua sua saga, misturando cristianismo com xamanismo africano, e sendo respeitada imensamente pelos franciscanos, impressionados com seu rigor ascético e visões.


Os franciscanos a chamavam de "Flor do Rio", e ela ganha fama de santa. Enfim, é denunciada pela Inquisição, presa e morre encarcerada em Lisboa, tida como herege. Antes disso, escreve um Tratado de Teologia chamado "Sagrada Teologia do Amor Divino das Almas Peregrinas", que é queimado pelas autoridades.


Fundou no Rio uma congregação de beatas, que dizia ser a Arca que sobreviveria a uma inundação que lavaria os pecados do Rio de Janeiro. Profetizava que essa inundação traria de volta São Sebastião, com quem ela casaria e geraria uma novo Brasil. Enredo magnífico, de uma mística perfeitamente africana, católica, brasileira.


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