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24 de março: Padim Ciço vive!

A 24 de março de 1844, nascia no Crato, Ceará, Cícero Romão Batista.


Aos dezoito anos, Cícero ingressou no sacerdócio após ser visitado pelo pai em sonho. Ingressando no seminário de Fortaleza, é ordenado padre e, aos vinte e seis anos, iniciaria o itinerário místico e político que o caracterizaram, possivelmente sem que ele o quisesse, como "santo do povo", "papa do povo", "coronel de batina".


Resoluto em cumprir missão confiada a ele por Cristo em sonho, Cícero Romão Batista fixa-se no arraial do Juazeiro em 1872, então com trinta casas de palha, apenas cinco de telha e uma capelinha abandonada há anos. Vila em 1911, cidade em 1914, com aproximadamente 30.000 habitantes.



Suspenso de ordens religiosas em 1897 e, por conseguinte, proibido de ministrar os sacramentos (permissão reavida mais de vinte anos depois), continuou arregimentando fiéis, desde a Bahia aos rincões do Amazonas, ex-escravos, camponeses sem terra, vaqueiros, cantadores, cangaceiros, jagunços, coronéis.


Prefeito, deputado federal e vice-presidente do Ceará, era tido como conservador, chegando a convocar Lampião para o seu Exército Patriótico a fim de combater a Coluna Prestes.


A despeito da fama de reacionário, orientou o Beato Zé Lourenço a arrebanhar famílias humildes no Sítio Caldeirão. Esse sítio, de propriedade do Padim Ciço, logo foi transformado numa terra extremamente produtiva e numa propriedade comunitária e autossuficiente, produzindo, também, as ferramentas de trabalho, vestimentas e calçados. Durante a seca de 1932, nenhuma pessoa morreu de fome nessa comunidade.


Com a morte do Padre Cícero em 1934, Caldeirão perdeu seu defensor.


Esquerdistas, no entanto, analisam personagem tão multidimensional considerando apenas fenômenos econômicos e segundo a dinâmica dos modos de produção, o desenvolvimento das forças produtivas na região nordestina. Para eles, a econonomia baseada no plantation, isto é, na monocultura exportadora e na mão-de-obra semi-servil, tornou o Nordeste fértil para o vicejo de "fanáticos" e dos mais diversos tipos de profetas.


Essa meia-verdade só revela o preconceito marxista e ateu contra a religiosidade popular, híbrida, genuinamente nacional, bem como ignorância no que concerne à história do Brasil, seus mitos fundadores, a Terra sem Males tupi-guarani, os Christos do alto Rio-negro e o Sebastianismo que deitou raízes aqui. O brasileiro é homo religiosus, antes de ser homo oeconomicus. O brasileiro quer se fartar de pão, mas antes quer forjar no trigo o milagre. O povo quer terra para buscar Deus, e apenas a terra e o enraizamento podem satisfazer toda a necessidade de infinito e de totalidade que há no povo.


Seu nome vive nos cantadores e na literatura oral do Nordeste. Como disse Câmara Cascudo, "Um cantador que não louve ao Padre Cícero corre perigo de vida". Gonzagão cantou:


"Olha lá

No alto do morro

Ele está vivo

O padre não tá morto"


Segundo José Carlos Mariátegui, "A força dos revolucionários não está na sua ciência; está na sua fé, na sua paixão, na sua vontade. É uma força religiosa, mística, espiritual. É a força do Mito." Nesse sentido, o mito Padre Cícero tem a força que pode reanimar nosso nacionalismo, sim, místico, cujas raízes remontam ao messianismo tupi-guarani e ao messianismo milenarista ibérico.


PÃO, TERRA, TRADIÇÃO!

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