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A formação militar de Getúlio Vargas

Por pouco Getúlio Vargas não seguiu carreira militar. O pai do ex-Presidente foi voluntário na Guerra do Paraguai. O General Manuel Vargas começou como soldado raso, mas acumulou prêmios por bravura e terminou o conflito como capitão.


Foi na guerra que Manuel Vargas começou a acumular a riqueza que o transformaria em importante estancieiro da região missioneira da fronteira gaúcha. O gado e as terras vinham de botins e de recompensas militares.


O patriarca dos Vargas também era republicano de primeira hora, e contava com orgulho na família o dia em que se recusou a participar da visita de Dom Pedro II às tropas em combate na fronteira. Foi grande aliado e amigo de Júlio de Castilhos, que ascendeu à liderança da Rio Grande do Sul com a queda da Monarquia, reduzindo ao ostracismo Gaspar da Silveira Martins, que então comandava a Província.


Manuel Vargas foi um dos líderes da temível Divisão do Norte durante a guerra civil entre chimangos e maragatos nos primeiros anos do novo regime e que literalmente fez cabeças rolarem entre os que se digladiaram. Dois nomes eram venerados na família Vargas: o de Castilhos e o de Floriano Peixoto, o Marechal de Ferro.


Crescendo com esse modelo em casa -- diz-se que nunca ousou desobedecer nenhuma ordem do pai --, e seguindo a tradição gauchesca de valorização da vitória pela força das armas, o adolescente Getúlio adentrou na Escola Preparatória e de Tática do Rio Pardo. Era uma EsPCEx da época, visando preparar cadetes pra Escola Militar da Praia Vermelha, Rio de Janeiro -- e que em 1913 foi pra Realengo, também no Rio; na década de 1940 para a cidade de Resende, interior fluminense, mudando de nome para ''Academia Militar das Agulhas Negras''.


Getúlio permaneceu quase três anos no Rio Pardo, ostentando a patente de sargento do Exército. Era bom aluno na instituição, e suas únicas máculas foram uma falta ou outra por conta de seu caráter boêmio. No entanto, não completou o curso. Houve um motim da escola quando Vargas se encontrava no terceiro ano. Ele não esteve diretamente ligado ao caso, mas quando as punições começaram a se multiplicar por causa da delação de um dos colegas, fez parte do grupo que resolveu tomar partido dos que estavam sendo rigorosamente punidos e desligados da instituição, e assinou um documento criticando os oficiais e professores.


Expulso, teve de retornar a Porto Alegre, exercendo sua patente de graduado durante mais alguns anos. Foi então que desistiu das Forças Armadas, se matriculando na Faculdade de Direito recém-aberta na capital gaúcha. Antes de abandonar de vez o Exército, porém, deu uma última chance à sua vocação militar. No início do século, estourava o conflito diplomático entre o Brasil e a Bolívia em torno do Acre, e tropas nacionais foram mobilizadas para a fronteira. Getúlio embarcou com elas em busca das glórias de combate que crescera admirando nas histórias do pai.


O jovem sargento permaneceu acampado na fronteira durante alguns meses, até que se convenceu de que tudo não passava de manobra política para convencer os bolivianos a aceitarem um acordo diplomático. Decepcionado, Getúlio pediu baixa antes que a pendenga se resolvesse e mudou os planos para seu futuro.


Mas foi nesse período na Escola Militar de Rio Pardo que ele acabou por conhecer alguns dos militares com quem conviveria algumas décadas depois. Um deles, o General Eurico Gaspar Dutra, um dos mais importantes líderes do Exército nos anos 1930 e 1940, e, mais tarde, Presidente da República com o aval de Getúlio. Dizem que Dutra sofreu muito com os trotes do veterano Vargas em Rio Pardo, o que não impediu que os dois encetassem uma amizade e aliança duradoura, ainda que com idas e vindas.


Quanto ao pai, que mais tarde seria intendente [prefeito] de São Borja, Getúlio continuou ouvindo seus conselhos. Logo depois da vitória da Revolução que em 1930 o conduziu à Presidência da República, recebeu carta do pai, em que se podia ler: ''Presumo que sairás daí velho, devido ao excessivo trabalho intelectual dia e noite. Olha, faça como o Marechal de Ferro: confia em todos, desconfiando igualmente''.


Na foto, o sargento Getúlio Dornelles Vargas.

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