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Foto do escritorAndré Luiz V.B.T. dos Reis

A inclusão de minorias como questão nacional

Existem duas posições extremas no sistema político que não representam a sensibilidade da maioria esmagadora da população e que, portanto, refletem em seu próprio âmbito a crise de legitimidade que destrói a democracia do país.


A primeira é de pequenos grupos políticos que gostariam de vetar alguns direitos de gays e pessoas trans, evitando inclusive qualquer debate sobre inclusão, tolerância e combate à discriminação destes cidadãos. Embora não possam dizê-lo com todas as letras, consideram que o arcabouço legal deveria reproduzi o juízo que fazem destes indivíduos, que consideram 'degenerados', 'corrompidos', 'aberrações', e até mesmo 'sub-humanas'.


Evidente que a moralidade e as práticas sociais dominantes na História do país tornam gays e pessoas trans com demandas de proteção e segurança algo específicas, e são necessárias políticas públicas que as defendam. O espaço da escola é um dos mais aptos para que sejam desenvolvidos, em termos gerais, noções de tolerância e boa convivência na sociedade.


Por outro lado, alguns militantes envolvidos com pautas identitárias voltadas para estas populações gays e trans partem da premissa que tem de realizar uma verdadeira guerra cultural contra o cristianismo e a moralidade popular.



Dias desses, tive o desprazer de ouvir em um grupo de Whats App áudios raivosos de uma dessas figuras que, na ânsia de rebater o discurso [quase] segregacionista que mencionei no primeiro parágrafo, fazia ataques à religiosidade, Escrituras, crenças e igrejas cristãs, responsabilizando-as, inclusive, por crimes de ódio contra gays e trans. O sujeito, aparentemente babando de raiva, e em meio a xingamentos contra seus interlocutores, chegou a dizer que o Estado tinha de impor determinada educação, e que todos que não se adequassem a ela deveriam sair da escola pública.


É uma visão de bolha, autoritária e alienada do 'chão da escola' e da população das periferias das grandes cidades. Primeiro, o Estado não deve impor de cima para baixo nenhum modelo fechado de Educação sem escutar o que tem a dizer as comunidades escolares, a quem a escola realmente serve e pertence. Segundo, qualquer prática fechada de educação que pretenda passar como um rolo compressor sobre as crenças da comunidade escolar vão enfrentar poderosa resistência dos próprios alunos e responsáveis.


Diferente do que imagina o militante identitário, não serão elites alienígenas que vão reclamar de um modelo educacional imposto de cima para baixo. São os pobres da periferia que, vejam só!, são esmagadoramente cristãos! A solução que o sujeito aventava, "excluir da escola" quem não se adaptasse aos valores que ele gostaria de propagar, é puro nonsense. O cristianismo, especialmente o evangélico, é a religião dos mais pobres.


O extremismo bitolado dos dois lados só pode dar, em curto e médio prazo, em paralisia do debate, radicalização das posições, e conflito e violência discursiva, simbólica e física. Em vez de pacificar a sociedade, estas posições se afastam do povo e promovem cisões.


A tolerância, a inclusão, a cidadania tem de ser incentivadas e implementadas em diálogo e a partir das premissas dominantes na moralidade da própria população. Tratá-las como agendas ou produtos importados a serem enfiados na goela da população é só dar continuidade a um processo de colonização do país, tratada como "selvagem" e inadequada aos critérios civilizacionais emanados do Ocidente. É mais uma forma de barrar, de modo muito óbvio, a consolidação de uma verdadeira democracia no país.

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