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A Seleção da Rainha do Meio-Dia




Toda Copa do Mundo é acompanhada pelo mesmo fenômeno. Populações de diferentes continentes, em geral pertencentes ao que se convenciona chamar de Sul Global, se pintam de verde e amarelo, se aglomeram diante de TVs e telões, vestem a famosa camisa "canarinho", e muitas vezes festejam nas ruas as vitórias da seleção brasileira.


Nesses períodos, as ruas do Haiti, da Jamaica, Índia, Bangladesh, Líbano, Angola etc. pouco se distinguem daquelas da Bahia, do Rio de Janeiro e demais metrópoles do Brasil.


A era das redes sociais tornou ainda mais acessível as imagens de pessoas de outras nações se enrolando na bandeira brasileira, provocando espanto em alguns círculos. A equipe canarinho é o maior exemplo da influência da cultura e da identidade do Brasil ao redor do mundo, nossos craques estão entre nossos principais embaixadores.


Há explicações diversas para este afeto. Formado por pessoas de diversos continentes, o miscigenado Brasil é o rosto dos povos do antigo "Terceiro Mundo". Nossa política internacional de não-alinhamento, enfatizando as relações Sul-Sul na ordem internacional, nos ajuda a dialogar com todos os Estados do planeta sem forjar inimizades.


Não temos histórico imperialista e somos uma país de pessoas pobres. Estamos vinculados à imagem da dança, da festa, do carnaval, da alegria. A profusão de jogadores de alto nível técnico, de conquistas e a capacidade para enfrentar as potências futebolísticas e geopolíticas da Europa também são fontes de identificação com o nosso escrete.


Desse modo, a camisa canarinho não só expressa e exporta nossa cultura, não só exemplifica o soft power do Brasil, mas se torna liame de identificação de todo os povos do Sul Global.


Ariano Suassuna mobilizava a figura bíblica da Rainha do Sul -- ponto cardeal tradicionalmente vinculado ao Meio-Dia e ao Verão --, para se referir aos traços comuns e dionisíacos dos povos meridionais que se espraiam pela América Latina, África e Ásia.


Neste sentido, podemos dizer que a Seleção Brasileira está longe de representar apenas uma nação. Ela dá concretude às similitudes existentes no imaginário destas populações, que se reconhecem na performance ao mesmo tempo lúdica e séria do futebol como partícipes de uma mesma matriz.


As cenas da torcida dos países do Sul Global diante da nossa seleção mantém a esperança de que essa unidade se transforme também em consciência e ação política conjunta. Na Copa do Mundo, e nas Relações Internacionais, a Rainha do Meio-Dia pode se adornar de verde e amarelo com paixão, se revelando ainda mais bela, ainda mais respeitada.


Ganhando ou perdendo, o Sul é verde-amarelo, é nosso destino, é nosso lugar!


PÃO, TERRA, TRADIÇÃO!

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