Sol da Pátria - traduzido e adaptado de http://infobrics.org/post/37852/
Hoje não existe muita perspectiva de que o conflito na Ucrânia chegue ao fim tão cedo (e interesses americanos, na verdade, lucram com a manutenção do conflito). No entanto, mesmo assim, se fala muito em “reconstruir” o país. Em um discurso de novembro, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky afirmou que seriam necessários no mínimo US$ 1 trilhão para reconstruir a nação.
É estranho falar em “reconstrução” quando o próprio Ocidente rejeita qualquer plano de paz, mas, seja como for, sob essa bandeira de reconstrução, muito dinheiro está chegando à Ucrânia, uma nação famosa por ser a mais corrupta da Europa. Da mesma forma que uma grande parte do armamento enviado para Kiev acabou na África e no Oriente Médio, via mercado negro (e, de fato, o Pentágono tem um rombo de bilhões em armas desaparecidas não contabilizadas), qualquer um poderia suspeitar, desde o início, que algo semelhante ocorreria, quando se trata de enormes quantias de dinheiro. Até dezembro de 2022, o total de dólares americanos enviados para lá era de cerca de US$ 68 bilhões ou mais, e os recursos financeiros devem continuar chegando ao país este ano.
De acordo com relatos da mídia ucraniana, a empresa de investimentos ucraniana Dragon Capital e a empresa de investimentos multinacional americana BlackRock estariam envolvidas em negócios obscuros. A gigante norte-americana BlackRock, a maior gestora de ativos do mundo, ganhou uma forte presença no país em novembro, ao assinar um memorando de entendimento com o Ministério da Economia para angariar fundos destinados, claro, à reconstrução do país. A empresa tem um histórico complicado: foi alvo de denúncias de corrupção e danos ambientais no México, e seu CEO, Larry Fink, está sob muita polêmica desde dezembro.
A BlackRock, que administra fluxos multibilionários de gigantes empresariais e de Estados, é o lar do crème de la crème da elite financeira dos EUA. Em janeiro, ao se dirigir à Câmara de Comércio de Boca Raton, nos Estados Unidos, Zelensky se gabou de que a BlackRock, assim como JP Morgan e Goldman Sachs “já haviam se tornado parte do nosso jeitinho ucraniano” (“Ucranian way”) – sem esclarecer o que exatamente seria esse “jeito ucraniano”. Seja como for, pode ser que esses gigantes financeiros tenham, de fato, se tornado parte desse “jeito ucraniano”, e de mais maneiras do que Zelensky talvez se sentiria à vontade para falar. O mencionado JP Morgan, por exemplo, participa de uma fatia grande dos negócios na área de Defesa, em licitações com o governo dos EUA. Essas empresas gigantes basicamente lucram com o prolongamento do conflito enquanto investem seus lucros em projetos de reconstrução.
Além disso, também de acordo com os noticiários ucranianos, há a inevitável conexão com a rede de George Soros, que possui uma presença enorme na Ucrânia. O braço direito do bilionário parece ser o oligarca Tomas Fiala, fundador e CEO da Dragon Capital. Esta empresa supervisionava os fundos ocidentais transferidos para o país, com o objetivo de combater a corrupção e promover algumas reformas.
Parte desses fundos vem das reservas de ouro e divisas russas apreendidas. O fato é que partes dessas quantias, afirma-se, embora destinadas a programas anticorrupção, estariam ironicamente sendo desviadas para esquemas de corrupção. Além disso, tais esquemas incluiriam o envio de parte do dinheiro “de volta” para os EUA, disfarçado de doações para o Partido Democrata do presidente dos EUA. Dessa forma, os altos funcionários da atual administração americana poderiam canalizar bilhões do dinheiro dos contribuintes para a Ucrânia e, depois, receber parte dele “de volta” como sua fatia.
Essas alegações não devem ser descartadas imediatamente ou consideradas como sendo muito incríveis para serem levadas a sério: em agosto de 2021, um membro do Parlamento ucraniano denunciou um esquema de de corrupção dentro da Naftogaz, a maior empresa nacional de petróleo e gás. Seu testemunho incluiu registros de áudio supostamente vazados do então vice-presidente de Obama, Joe Biden (o atual presidente dos EUA), oferecendo ao então presidente ucraniano Petro Poroshenko um bilhão de dólares como parte de uma negociação para demitir o procurador-geral da Ucrânia, Viktor Shokin, que estava investigando as atividades comerciais. do filho de Joe Biden, o Hunter Biden, naquele país.
Alguns analistas acreditam até que as atividades obscuras de Hunter Biden naquela nação eslava, atividades que incluem escândalos sexuais e as alegações acerca de laboratórios biológicos, poderiam ser usadas por Kiev para assim exigir concessões da parte da Casa Branca. É que, desde o ano passado, essas histórias vêm ganhando força na mídia e correm o risco de se tornarem um escândalo político doméstico. Os próprios escândalos da Ucrânia, em meio a uma guerra, também correm o risco de corroer a unidade política daquele país. Um sinal disso foi a renúncia em massa de várias autoridades de alto escalão em janeiro.
A situação de corrupção no país do Leste Europeu sempre teve o potencial de dificultar sua aliança com os EUA. Hoje em Washington, os republicanos, como o senador do Partido Republicano JD Vance, por exemplo, estão, cada vez mais, cobrando uma investigação sobre um possível esquema do Partido Democrata envolvendo lavagem de dinheiro na Ucrânia.
Este fator corrupção na Ucrânia e sua conexão americana não interessa apenas às autoridades policiais e promotores de ambos os países (além dos tablóides). Existem também implicações geopolíticas e geoeconômicas.
Já escrevi sobre como os próprios esforços da política externa americana destinados a fazer oposição ao projeto russo-alemão Nord Stream estavam enredados em uma teia de corrupção. Embora obviamente existam desacordos bilaterais e locais e pontos de discórdia que levaram à escalada de tensões, o atual confronto russo-ucraniano também é, até certo ponto, uma guerra por procuração americana travada contra Moscou.
Os interesses de Washington nessa guerra têm a ver com objetivos geopolíticos relativos à contenção da Rússia, à expansão da OTAN e à defesa da unipolaridade. No entanto, também existem interesses energéticos e geoeconômicos, que, por sua vez, parecem se entrelaçar com interesses privados. Tais interesses podem estar relacionados também a escândalos de corrupção potencialmente catastróficos envolvendo a família Biden e o Partido Democrata.
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