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Indiana Jones, cinema e ideologia

É verdade que os valores ditos tradicionais estão sendo permanentemente atacados? Sim. É verdade que existe um programa revisionista de desconstrução e destruição de mitos, lendas, personagens de ficção e figuras históricas no intuito de fabricar um "novo homem", dócil e submisso às agendas políticas do momento? Não tenho nenhuma dúvida disso. É verdade que a grande mídia se empenha com bastante afinco nesse projeto, não raro destruindo o seu próprio legado de décadas na indústria do entretenimento, para bajular as novas sensibilidades? Para mim, isso é claro como água.


Mas...



Quando nossos medos ideológicos paralisam a nossa inteligência e embotam a nossa visão, fazendo com que não consigamos mais apreender um objeto concreto que está diante de nós, as diferenças entre um conservador e um revolucionário acabam, e eles passam a disputar a primazia de quem grita mais alto para impor o seu olhar distorcido aos fatos.


É o que está acontecendo com o novo "Indiana Jones". O filme tem um argumento engenhoso, bom roteiro, fiel ao espírito de todos os filmes da série, em suma, como sempre, um ótimo entretenimento de sessão da tarde, o que sempre foi o seu objetivo: resgatar o espírito das antigas matinês cinematográficas de oitenta anos atrás. O Dr. Jones está lá, inteiro, mas velho (como o próprio Harrison Ford), aposentado, incapaz de entender a geração "flower power", arruinado por um casamento desfeito e um filho morto, mas ainda capaz de decifrar mistérios arqueológicos e encher nazistas de porrada.


A tal "empoderada" do filme está longe de ser uma substituta para os "novos tempos". Antipática, sem carisma, uma ladra vulgar e argentária, que termina por reconhecer que a geração do Dr. Jones tem ainda valores sólidos a defender. Se o objetivo foi desconstruir o velho Indy e criar uma nova (e igualmente fracassada) Rey, de "Star Wars", nem se esforçaram para isso.


"Indiana Jones e a Relíquia do Destino" é um passatempo agradável, digno final para a saga. Não acreditem nos "formadores de imaginário". Eles seguem uma ideia, a da guerra cultural, e qual um Édipo de teatro amador, arrancam os olhos para não enxergar um fato concreto que atrapalhe a sua cruzada.


* Texto originalmente publicado no Facebook do autor

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