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Novo Ensino Médio: educação é mercadoria?



Aumenta a pressão em cima do governo Lula para a revogação do "novo ensino médio". Por sua vez, Camilo Santana, Ministro da Educação, avisou que o caminho é "melhorar o que foi feito" e não apenas retornar ao modelo anterior.


Os itinerários formativos são uma excelente ideia, e há necessidade de adequar o currículo não só ao século XXI mas também à reprodução das culturas locais, o que implica, de fato, na criação de novas disciplinas que deem conta da riqueza das atividades intelectuais, festivas, econômicas, folclóricas da região em que existe dada comunidade escolar.


No entanto, fica difícil explicar para alunos, responsáveis e docentes a lógica de reduzir o número de aulas de História, Sociologia e Geografia para substituí-las por maravilhas como "RPG", "Mundo dos Pets" e "Brigadeiros". As disciplinas "eletivas" não são necessariamente ruins, mas é fácil notar a falta de discernimento na escolha de prioridades ou no aproveitamento desses instrumentos.


No fundo, a nova matriz curricular foi engolida por uma lógica perversa, não a de readequar a escola a novos tempos, contribuir para a melhora da educação ou da ligação orgânica do ensino formal com a reprodução da cultural local e regional. Mas para "poupar" mão de obra: diminuir a necessidade de professores, não importando se o impacto na formação do aluno vai ser positivo ou não.


Há de se pensar se vale a pena começar uma reforma tão ampla assim justamente pelo ensino médio ou desacompanhada de mudanças mais significativas no Fundamental. Por que não adotar antes estas medidas [nova grade curricular, com eletivas e itinerários] em escolas que adotem o ensino integral?


O novo ensino médio tampouco pensou na vida dos professores. O número de tempos de algumas disciplinas da base nacional comum tornou inviável que eles consigam lecionar em só uma escola. Mais das vezes, acabam complementando o horário em outras unidades, agravando um dos problemas mais prementes da educação pública e da carreira do magistério, ou seja, essa reforma traz um cenário de mais sobrepeso e desvio de função dos professores. Pior ainda, não os preparou para que elaborassem as novas eletivas que entraram na grade, levando a inevitável perda de conteúdo.


Além disso, com a obrigatoriedade de apenas duas disciplinas, português e matemática, a formação integral dos estudantes fica prejudicada. Por fim, essa reforma também oferece formações precarizadas, como cursos de curta duração e por videoconferência, o que é um descalabro no cenário atual, uma vez que a experiência com o ensino remoto durante a pandemia de covid-19 demonstrou a desmedida exclusão digital da maioria dos estudantes brasileiros, além de obstar a relação docente-dicente.


Se o Camilo Santana pretende repensar a questão, que o faça bem rápido. O ensino médio é curto, e nos arriscamos a ter uma geração craque em "pets" mas com dificuldades sérias em aspectos prementes da cultura universal, brasileira e das necessidades da cidadania. Sublinhamos que a comunidade escolar, sujeito central no processo educativo, não foi consultada no momento de criação da lei, demonstrando que se trata duma reforma antipovo, anticomunidade.


Uma mudança curricular desse porte é oportuna para redefinir o que queremos da instituição escolar por inteiro. Mas isso é impossível se não soubermos também que país desejamos construir. Esperamos que não um voltado para as "necessidades do mercado", e sim para o acesso, difusão e reprodução do que nossas comunidades têm de melhor. Essa, sim, seria uma formação cidadã e poderosa.


PÃO, TERRA, TRADIÇÃO!

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