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Revide iraniano a Israel: as peças do xadrez estão em movimento

No complexo tabuleiro geopolítico do Oriente Médio, a disputa mais incisiva pelo poder envolve, há muitos anos, Irã e Israel. O crescimento econômico, demográfico e militar iraniano se tornou, pouco a pouco, um imenso desafio para os sionistas e para algumas lideranças sunnis próximas ao Ocidente. O conflito se move em meio a um intricado novelo de inimizades étnicas, políticas, ideológicas e religiosas -- e este último elemento é o mais permanente, profundo e decisivo, ainda que muitas vezes menosprezado nas análises.



Os embates e intervenções recentes no Oriente Médio, tanto no Iraque quanto na Síria, aumentaram sobremaneira a influência iraniana, a ponto de transformarem o ''arco shia'' na obsessão da política externa sionista e ianque. Os dois aliados temem o fortalecimento de uma aliança de potências eurasiáticas e, ao mesmo tempo, a nuclearização do Irã, que retiraria de Israel sua principal vantagem bélica. Desde o início do conflito atual em Gaza, que evoluiu rapidamente para uma limpeza étnica com sinais claros de genocídio por parte de Israel, existiam provocações que apontavam para o desejo sionista de envolver o Irã na guerra.


O establishment sionista vê o isolamento e/ou a destruição do regime iraniano como vital para sua sobrevivência a médio e longo prazo. Não se trata sequer de evitar que a liderança shia desenvolva ogivas nucleares, não se trata de obstaculizar seus laços crescentes com a maioria shia da região - mas antes de demolir completamente a possibilidade do Irã se tornar um pólo de poder capaz de ameaçar os interesses sionistas e ocidentais no Oriente Médio.


O capítulo de ontem retira boa parte dos véus que encobriram o xadrez dos últimos meses. Pela primeira vez, o Irã realiza um ataque direto ao território ocupado pelos sionistas em retaliação a mais um crime de guerra cometido por Israel, que alvejou consulado iraniano em um terceiro país, a Síria. O revide iraniano foi bastante controlado para provocar o mínimo de danos e evitar a escalada. A maioria dos drones foi interceptada não só pelas defesas israelenses mas por norte-americanas e britânicas, os verdadeiros garantidores do regime sionista.


As peças do xadrez se movem mais um pouco. Israel não está em uma posição confortável mas Netanyahu não pode demonstrar fraqueza no front interno. Se ele piscar, vai perder tudo. Por mais que existam pressões para que os sionistas coloquem panos quentes é difícil imaginar uma situação em que Israel se recuse a dar uma resposta, por pequena que seja.


Deixo meu apoio aos iranianos, cuja soberania é continuamente atacada pelo imperialismo e suas cabeças de ponte no Oriente Médio. Em toda a loucura que grassa na região, o Irã representa a racionalidade, o respeito à ordem internacional, e o princípio de autodeterminação dos povos. Representa também a tolerância religiosa e a convivência civilizada entre etnias e entre espiritualidades diferentes (inclusive contando com a maior comunidade judaica do oriente médio), um universalismo shia que é de difícil compreensão para boa parte do Ocidente -- que, em sua pior face, é uma civilização sectária, narcisista, que odeia tudo que não é espelho, e que tem fortes tendências totalitárias.







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